DISCOS
@c / Vitor Joaquim
Study / De-Tour
· 05 Mar 2008 · 08:00 ·
@c / Vitor Joaquim
Study / De-Tour
2006 / 2007
Grain of Sound / Feld


Sítios oficiais:
- @c / Vitor Joaquim
- Grain of Sound
- Feld
@c / Vitor Joaquim
Study / De-Tour
2006 / 2007
Grain of Sound / Feld


Sítios oficiais:
- @c / Vitor Joaquim
- Grain of Sound
- Feld
Antes de ser conhecido o futuro em novo disco, o passado recente dos @c conhece merecida revisão dupla.
Os manifestos e manuais de referência empenhados em listar formas de evitar a estagnação artística, despendem geralmente uma alínea com o frisar da seguinte noção: uma secretária desarrumada favorece e estimula a criação muito mais do um espaço de trabalho aprumado. Essa é uma daquelas leis que bem podia surgir no best-seller do publicitário britânico Paul Arden, Whatever You Think, Think the Opposite, que é também bíblia de bolso para quem abomina o tempo perdido no sofá. Ao abrigo disso, poder-se-ia dizer – sem correr grandes riscos – que poucas são as marcas de ócio vislumbradas aos sofás de Miguel Carvalhais e Pedro Tudela e enorme a barafunda que se calcula abundar no interior e periferia dos laptops que têm sido verdadeiros tanques de guerra ao serviço da missão multimédia @c, que encontra em Study e De-Tour as respectivas quinta e sexta investidas de longo porte (excluindo das contas os lançamentos de menor duração e anotando que o último reúne peças gravadas ao vivo com Vítor Joaquim). Exploremos, por agora, Study - primeiro disco de estúdio - e a sua relação com a informação sonora e correspondentes instrumentos de reconfiguração, que inundam o processador central @c tal como a água que banha um oásis.

Mais do que um oásis de sábia gestão, Study pode – a partir de uma localização subterrânea - até ser o intricado sistema de canalização que não seria tão funcional ou envolvente sem a engenharia e arquitectura dos @c que, uma vez mais, atribuem propósitos e tarefas próprias aos vários corpos digitais amontoados nos discos rígidos. À medida que são conjugados no mesmo universo Study, ruminares ruidosos separados à nascença cruzam-se num mesmo ponto de encontro, trépidos tentáculos tonais descobrem simultaneamente o prazer de conspirar um ataque sensorial numa mesma trincheira, burburinhos glitch aguçam o inicial brainstorm desafiando o controle dos seus próprios criadores (que devem conhecer bem a capacidade autónoma que tem o glitch enquanto agente da corrosão que se revela de modo perigosamente imprevisível).

Num filme de acção, assenta bem a Miguel Carvalhais, tal como a Pedro Tudela, o papel de hacker, inteligente braço-direito do vilão, que tem o sistema informático de um arranha-céus como extensão do seu domínio cerebral (o Bruce Willis que se cuide). Em conformidade com isso, Study pode ser também um estudo debruçado sobre as mais apropriadas artimanhas (arte + manhas) digitais existentes para manter em cativeiro quem se atrever a mergulhar neste emaranhado. Ou, pelo menos, ponto favorável à constatação de que a observação mais analítica dos sons oferecidos por uma rotina urbana podem também compor um conseguidíssimo portfolio das manipulações e conversões de que são capazes os @c.

O caldo engrossa quando os @c encontram em Vítor Joaquim um experiente ronin aliado que, além de ter em Flow um disco que ainda faz salivar, havia já participado em diversas iniciativas conjuntas com o duo portuense. Limitado a 500 cópias fabricadas em cartão selado, De-tour regista os @c e Vítor Joaquim em formato trio a partir de selecções aproveitadas às actuações em digressão pela Alemanha e uma passagem por Lisboa. Diante da agitação e pulverização de sons atípicos a cargo dos @c, Vítor Joaquim é o homem dos dedos sobre os botões vermelhos que activam os mais dominantes sons de destruição maciça. Sem receios, o vértice mais autoritário do triângulo dá uso a sondas vigilantes que o seu laptop debita para que essas meçam de alto a baixo o atrito produzido pelos @c. Quando bate forte o abrasivo e sobrecarregado culminar de “Lissabon” (gravada, ao que parece, na ZDB), recordamo-nos de que existem idas ao dentista que valem realmente a pena, tanto que esta também perfura um mantra vocal até ao ponto desse rogar a maldição que se converte na tempestade final. De-tour condensa o óptimo momento de forma vivido pelos envolvidos e salienta aos mesmos uma complexidade que promete sempre a formação de adicionais ramificações a partir das já assimiladas.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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