DISCOS
Dru
L’ Aiguille du Dru
· 24 Abr 2009 · 12:04 ·
Dru
L’ Aiguille du Dru
2008
Headlights


Sítios oficiais:
- Dru
- Headlights
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L’ Aiguille du Dru
2008
Headlights


Sítios oficiais:
- Dru
- Headlights
A aproximação livre Ă s baladas do Jazz da Costa Oeste faz-se na (omni)presença do “fantasma do silĂȘncio”.
Se aceitarmos a influĂȘncia de tudo o que lhe Ă© externo, Ă© possĂ­vel reparar que, com o tempo, a mĂșsica acumula diferentes perspectivas. O exemplo disso Ă© perfeitamente prĂĄtico e adequa-se Ă  ocasiĂŁo: depois de desaparecidos alguns dos gigantes do Jazz da Costa Oeste (caso de Stan Getz e de Chet Baker), a revisĂŁo do gĂ©nero – e de ambos os mĂșsicos - faz-se principalmente de fotos a preto-e-branco e de relatos de episĂłdios mĂłrbidos. À mercĂȘ da capacidade ilusĂłria da histĂłria, a mĂșsica outrora cĂąndida ganha um aspecto mais assombrado. BastarĂĄ assistir a Let’s Get Lost, um misto de glorificação e retrato decadente de Chet Baker, para sentir o peso que esse pode ter nas escutas seguintes das lindas sessĂ”es que Chet gravou em Paris e TĂłquio. Felizmente, os trĂȘs membros dos Dru – David Maranha, Manuel Mota, Riccardo Wanke - encontram-se ainda bem vivos e a preto-e-branco surgem apenas nas fotografias da Vera Marmelo. Tal condição nĂŁo os impede de inverterem o sentido das coisas: antes de serem figuras numa recapitulação bicolor, reclamam o “fantasma” para a sua mĂșsica.

“Fantasma” esse que, em L’ Aiguille du Dru, mede a sua força, num constante e subtil braço-de-ferro, com o ĂłrgĂŁo (Maranha), a guitarra elĂ©ctrica (Mota) e o piano elĂ©ctrico (Wanke). Num disco que procura a aproximação Ă s baladas do jazz da Costa Oeste, usando timbre, tempo e silĂȘncio semelhantes, o “fantasma” Ă© essa mesma massa de silĂȘncio que aproxima os discursos paralelos dos envolvidos. Devendo tanto ao lower case, da escola Off Site, como a uma certa clandestinidade speak easy, o ritual triangular evolui com a ponderação de um jogo de Mikado, atravĂ©s de nuances e nĂŁo de contornos definidos. Os sons surgem impolutos, como se tivessem sido colhidos rente ao osso. Por vezes, sĂŁo de tal forma discretos que deixam escapar, entre a teia, ruĂ­dos da cidade e da televisĂŁo (ou rĂĄdio).

IncrĂ­vel Ă© mesmo perceber como L’ Aiguille du Dru necessita apenas de um relevo mĂ­nimo para anunciar a identidade dos anfitriĂ”es desta cerimĂłnia secreta (o disco, limitado a 200 cĂłpias, tem aspecto de convite para noite em herdade no meio do Alentejo). David Maranha, por exemplo, volta a fazer do seu ĂłrgĂŁo Hammond um instrumento de transcendĂȘncia nos temas de inspiração mais solene (o “#4” principalmente). AlĂ©m dessa, a cĂąmara de L’ Aiguille du Dru comporta outras revelaçÔes e alguns segredos por resolver – Ă© a introdução certa para quem acredita nos fantasmas como filtro para a mĂșsica.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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