Gerry Hemingway é um extraordinário baterista que tem desenvolvido um imenso trabalho em múltiplas frentes. Desde o quarteto de Anthony Braxton nos anos 80 (uma das suas melhores e mais estáveis formações), passando pelas colaborações com os históricos Anthony Davis, Wadada Leo Smith e George Lewis, o seu trio BassDrumBone (com Ray Anderson e Mark Helias) até aos seus próprios quartetos e quintetos – que através da Clean Feed editaram dois discos (Devils Paradise e The Whimbler) – Hemingway tem mantindo uma intensa actividade sempre em defesa da precisão e criatividade rítmica.

Com Michel Wintsch (no piano) e Bänz Oester (no contrabaixo) o baterista forma este WHO Trio, grupo que vem explorando o conceito de piano trio tradicional desde 1995. Apostando sobretudo na contenção, o grupo evita clichés e cria uma música com um alto teor de sensibilidade. Jogada em espaços de diálogo democrático, as ideias de cada músico vão surgindo, cada um contribuindo com novas soluções, numa originalidade típica da natureza da melhor música improvisada.

O piano de Wintsch não se deixa levar por caminhos óbvios, arrisca diversas vezes experimentar sem medo, mas consegue frequentemente traçar desenhos melódicos seguros. O contrabaixo de Oester vai além de marcação rítmica acertada, intervém regularmente para acrescentar cores com naturalidade. E na bateria Hemingway sabe ser sempre ponderado, ora deixando-se ofuscar para dar espaço aos colegas, ora chamando a atenção através da criação de malhas texturais marcantes.

O título diz tudo. A expressão “less is more� sintetiza a maior parte das ideias aqui exploradas, onde se opta quase sempre por seguir caminhos menos espalhafatosos mas com resultados altamente meritórios. Desenvolvido por um trio de piano que se socorre de estratégias pouco comuns, este é um disco que reflecte uma música aberta, concentrada e de uma beleza rara.