DISCOS
The Very Best
Warm Heart of Africa
· 04 Nov 2009 · 11:29 ·
The Very Best
Warm Heart of Africa
2009
Moshi Moshi Records / Nuevos Medios


Sítios oficiais:
- The Very Best
- Moshi Moshi Records
The Very Best
Warm Heart of Africa
2009
Moshi Moshi Records / Nuevos Medios


Sítios oficiais:
- The Very Best
- Moshi Moshi Records
Espécie de regresso ao futuro dá-nos música negra filtrada à luz das leis da música indie - e os resultados são óptimos. Viva 2009.
Ah, como as coisas mudaram. Parece que foi o ano passado que descobrimos os The Very Best no myspace e… afinal foi mesmo em 2008. Em 1999 ninguém acreditaria. E se calhar Esau Mwamwaya nessa altura estaria também longe de acreditar que os Very Best pudessem ser realidade em 2009. Voltando a 2008, o que descobrimos naquele myspace deixou água na boca e agora em 2009 chega-nos Warm Heart of Africa, um disco fora do tempo – e não fora de tempo – e apostado em quebrar muitas e injustificadas barreiras. Não é raro brancos quererem fazer música negra, mas já é menos comum a África e as sensibilidades indie fazerem um pacto tão consentido e democrático – e com este grau de sucesso. Resumindo: esta é uma coisa bonita de se ver. E a história não é menos poética. Esau Mwamwaya conheceu a dupla Radioclit porque abriu uma loja de móveis em Londres na mesma rua do estúdio dos dois produtores deste disco.

Não era nem preciso ver o alinhamento do disco e ver na ficha técnica os nomes de M.I.A. e Ezra Koenig (o senhor dos Vampire Weekend) para perceber o encontro dos dois mundos. Batidas indie com ritmos e texturas africanas está na cabeça de alguns e no corpo dos Very Best. «Nsokoto» é o sonho molhado dos indies que passam a vida em flirts com a música negra e afrodisíaco para as vidas chatíssimas de muito boa gente. Esau Mwamwaya dá a voz ao manifesto e o duo de produtores Radioclit (Johan Karlberg e Etienne Tron) são mestres na resolução de possíveis conflitos que podiam resultar entre os dois mundos; são mediadores de sonoridades, digamos assim. A parceria atinge momentos de pura perfeição logo na inicial “Yalira”, riquíssima na conciliação de recursos e na gestão de ambiências tão características na música negra.

Mas o que faz de Warm Heart of Africa um disco essencial para este 2009 é o seu todo, é a soma de todas as partes. E as partes estão cheias de elementos para descobrir. Já o testamos: este não é um disco que se esgota nas primeiras audições. Há sempre mais uma cadência a apanhar a “Chalo” e um ruído melódico em “Julia”, há sempre mais confluências para apreciar e barreiras a derrubar. Só a fusão destes dois mundos – não inédita, mas tão pouco 100% vitoriosa - os dois mundos impede que uma canção como “Mfumu” não soe anacrónica mas sim refrescante. É assim em todo o disco, se calhar. É mesmo assim. Warm Heart of Africa é uma tacada neste 2009 e diz-nos uma coisa importante: às vezes é preciso ir lá atrás ao passado para abrir os braços ao futuro.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

Parceiros