A praia é um estado mental; qual escape surgido do tragar de um qualquer alucinógeno, a pop da crise económica coloca os seus olhares sobre a areia e o mar salgado, como um marinheiro que se debruça no horizonte à procura de terra firme. Toda esta analogia para resumir isto de uma forma muito simples: está um frio do caralho, porque não ouvir o que nos recorda a praia? Entra em cena Matt Mondanile, também conhecido por Ducktails; Arcade Dynamics é o terceiro disco da carreira a solo do norte-americano, ele que também nos alegra o espírito nos Real Estate. Resta a dúvida do ter optado por Ducktails quando Zé Carioca (que é um papagaio) faria mais sentido. Mas adiante:

A magia de Arcade Dynamics encontra-se, para já, na produção: entra no catálogo lo-fi, sim, mas não esconde uma qualquer inabilidade surf por debaixo de ruído. É um disco de canções como que de cristal, como o é a belíssima "Hamilton Road" ou a que porventura já se conhecerá através da presença deífica do Urso Panda, "Killin´ The Vibe" - e esta versão consegue ainda assim ser superior. O outro lado: a composição de um disco assim quando ainda se cavalga a onda chillwave - porque o background é em tudo semelhante. Assola-nos então a dúvida, potenciada pelo lado pura pop vs. batida electrónica de temas como "The Razor's Edge" e "Arcade Shift": já se pode falar de um "pós"?

Longe destas discussões, melhor desenvolvidas pelos obcecados com tags, Arcade Dynamics começa na canção (as dez primeiras faixas) e acaba no sonho: "Porch Projector", dez minutos de uma guitarra sorrindo, fogo-de-artifício, vozes de crianças ao longe, numa multidão - o nosso querido mês de Agosto, estupendamente sintetizado pela mão de Mondanile; é destas pérolas que se constroem grandes discos, ainda que cantarolar o refrão de "Killin´..." tenha o poder de partir a tarde cinzenta ao meio. De facto, nunca mais é verão.