DISCOS
Air
Talkie Walkie
· 27 Jan 2004 · 08:00 ·
Air
Talkie Walkie
2004
Astralwerks


Sítios oficiais:
- Astralwerks
Air
Talkie Walkie
2004
Astralwerks


Sítios oficiais:
- Astralwerks
E eis então que, após quase 3 anos, chega o novo disco a sério dos Air. "Um grande, grande disco, o melhor deles!", exclamam uns. "Que disco falhado, falta-lhe algo!", queixam-se outros. A verdade é que não é uma coisa nem outra. É apenas mais uma prova do inegável talento dos Air, da sua música electro-acústica, sem deixar de ser um dos primeiros grandes discos do ano. Um disco feito de canções. Canções. Algumas grandes, algumas médias, outras nem por isso. À primeira audição, não muito cuidada, não nos entram, e damos por nós a não conseguir compreendê-las. Mas quando acabamos de ouvir o disco, percebemos que as canções ficaram na nossa cabeça, damos por nós a assobiá-las.
Ao longo deste disco, os Air mostram-nos doces canções baseadas em guitarra acústica (a nova melhor amiga deles?), cantadas pelas vozes de Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel, sem qualquer tipo de ajuda exterior. Talvez seja esse um dos poucos pontos fracos do disco, a falta de uma voz feminina, como a de Beth Hirsch que tanto ajudou Moon Safari a chegar ao estatuto de obra-prima. A famosa teoria de John Gray de as mulheres serem de Vénus e os homens de Marte e as palmas sintéticas, em "Venus", as flautas, em "Cherry Blossom Girl", o primeiro single, os arranjos de cordas de Michel Colombier ou os banjos, tanto em "Alpha Beta Gaga" como em "Biological", ajudam este disco a ser um dos primeiros grandes lançamentos de 2004. Há apenas três faixas instrumentais: "Mike Mills", dedicada a um amigo da banda (não o baixista dos R.E.M., mas sim um realizador); "Alpha Beta Gaga", um tema movido uma bela melodia assobiada que já conhecíamos, mas desconhecíamos conhecer; e o belíssimo "Alone In Kyoto", que aparece na banda sonora de Lost In Translation de Sofia Coppola, e funciona como perfeita simbiose entre imagem e som no filme, mas não soa fora do contexto no disco, sendo um óptimo final para o mesmo.
É óbvio que existem pontos fracos, tais como o tema "Run", o tema menos acústico do álbum, e aquele em que as vozes são mais obviamente filtradas, sendo até em alguns pontos deveras maçadoras, mas como um todo o disco funciona muito bem.
O sal é um bom tempero, não haja dúvida alguma. Neste Talkie Walkie demora a chegar, e até chegar, o disco soa-nos insosso. Mas quando o sal chega e se entranha, nunca mais acaba, mantém-se connosco, sem nunca se desvanecer.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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