DISCOS
Louie Bellson
The Louis Bellson Explosion
· 01 Set 2005 · 08:00 ·
Louie Bellson
The Louis Bellson Explosion
1975
Pablo / Dargil
Louie Bellson
The Louis Bellson Explosion
1975
Pablo / Dargil
Nas prateleiras do Grande Arquivo Universal do Jazz, o hipotético local mágico onde estariam guardados todos os discos de jazz alguma vez gravados, os discos não seriam discriminados. Giant Steps de John Coltrane estaria ao lado de Timeless de John Abercrombie, Jay Hawk Talk de Carmell Jones estaria ao mesmo nível de The Black Saint And the Sinner Lady de Charles Mingus. E, a par com as gravações dos Hot Five e Hot Seven de Louis Armstrong, ficaria o disco The Louis Bellson Explosion. Assim, democraticamente iguais. Talvez desta forma muitos discos tivessem oportunidade de ser ouvidos que de outra forma não teriam ou porque, por preconceito, o autor não é tido em grande conta ou porque alguém definiu previamente que aquela obra é menos relevante que outra e, como tal, vai-se directamente ao mais importante, excluindo-se tudo o resto. A isto chama-se processo de filtragem e é obviamente necessário. Seria impossível no tempo de vida ouvir os discos todos e uma selecção prévia ajuda a escolher o que à partida não interessar tanto para deixar espaço para usufruir do material realmente valioso. Mas também é verdade que pelo filtro se perde muita coisa.

Louie Bellson é um baterista com relativa popularidade que começou por trabalhar, na década de 40, com os nomes mais gloriosos do swing: Benny Goodman, Count Basie e Duke Ellington contaram com os seus serviços e foi entre gigantes que a carreira de Bellson floresceu. Sem o fulgor exibicionista de Gene Krupa mas com uma técnica sólida e precisa, Bellson instalou-se como um dos mais significativos bateristas da sua geração. A partir dos anos 60, aplicando os ensinamentos dos mestres, actuou com as suas próprias big bands e trabalhou o seu som próprio. E foi com um grande grupo que em 1975, já depois de editar inúmeros discos em nome próprio, tratou de gravar The Louis Bellson Explosion. Para estas sessões juntou uma trupe de 22 músicos, onde se incluía gente como Blue Mitchell, Cat Anderson ou Snooky Young, e foram estes músicos que criaram o som luxuoso deste disco originalmente lançado pela editora Pablo.

Num alinhamento recheado de temas originais, há duas músicas que se destacam: “Intimacy of the Blues”, composição de Billy Strayhorn, e “Chameleon” de Herbie Hancock. A primeira é a abertura do disco e é logo notório que a qualidade dos arranjos está equilibrada com a qualidade melódica da composição. A elegância dos arranjos permite aliás realçar a espaços a técnica individual dos intérpretes, que alternam conforme os temas. E os segredos que se descobrem logo na primeira música espalham-se pelo disco todo. A vocação de compositor de Bellson é convincente e os temas estão todos harmonizados, a matriz clássica que os rege não apresenta grandes invenções mas mostra sempre uma inequívoca eficácia. À faixa número 5 entra uma versão de “Chameleon” (original do disco de fusão Head Hunters). O baixo eléctrico serve de espinha dorsal e a partir daquilo que era um estonteante hino jazz-funk desenvolve-se um equilibrado tema jazz sedoso, que se camufla disfarçadamente na coerência do resto do disco.

É um prazer ouvir discos assim quando, sem estarmos bem à espera, somos invadidos por um som rico e requintado. E ficamos inebriados: pelos trompetes que sobem e nos enchem, pela chama dos saxofones, pela riqueza do som do conjunto. Ouvir o baterista Louie Bellson rodeado de boas companhias a iluminar um conjunto de nobres temas é um prazer feliz, quase burguês - absorver este jazz cheio de classe é um saboroso deleite.

Este é apenas um disco entre a mais de meia centena de gravações de Louis Bellson efectuou ao longo da carreira. E, podemos dizer, chegar até este disco foi obra do acaso. Quantos grandes discos como este estarão “perdidos”, quanta boa música estará à espera de encontrar ouvidos dedicados? Eles andam por aí, nós temos é de ir procurá-los.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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