DISCOS
Richard Leo Johnson
The Legend of Vernon McAlister
· 11 Abr 2006 · 08:00 ·
Richard Leo Johnson
The Legend of Vernon McAlister
2006
Cuneiform


Sítios oficiais:
- Cuneiform
Richard Leo Johnson
The Legend of Vernon McAlister
2006
Cuneiform


Sítios oficiais:
- Cuneiform
“The Mississipi Delta mas shining like a National guitar”, canta Paul Simon enquanto descreve o percurso até Graceland. Em simultâneo com a viagem ao centro mitológico do rock’n’roll - à capital da Elvismania, o santuário do sebastianismo americano – o ex-colega de cantigas de Art Garfunkel mitifica também a guitarra americana de corpo metálico. E é precisamente uma velha guitarra National que está no centro de um originalíssimo disco acabado de editar neste fresco 2006.

Assim começa a história de um disco: por sugestão de um amigo, Richard Leo Johnson teve acesso a uma misteriosa guitarra. Leo Johnson é um guitarrista peculiar que editou o seu primeiro disco em 1999, pela Blue Note. Johnson encontrou-se com a guitarra, uma National Duolian dos anos 30, e assim que experimentou as suas cordas ficou fascinado - disse ele quando começou a tocar emanaram imediatamente da caixa de ressonância sinos, vozes e outros sons misteriosos. E para além dos seus sons, houve um pormenor captou a atenção do guitarrista, uma inscrição simples: “Vernon McAlister”. Seria o nome do seu anterior proprietário, pensou. Tratou então de procurar informações sobre esse tal indivíduo - quem seria, onde morava, que música tocava. Não descobriu nada. Começou então ele próprio a criar a lenda de Vernon McAlister (a história completa pode ser lida em www.vernonmcalistercom).

Concentrado naquela guitarra especialíssima, começou a fazer música em torno do misterioso McAlister. Sozinho, Leo Johnson experimentou os sons da guitarra e foi construindo músicas que começaram a crescer e a dar sentido ao recém-criado mito. Algures na América, um homem e uma guitarra traçaram uma folk coberta de terra. De um jogo instrumental tão elementar mais não seria de esperar que o encontro se desenvolvesse com arte. Por vezes há construções melódicas trabalhadas, outras vezes são apenas os sons mágicos que são explorados em toda a profundidade. Assumidamente despida, esta música é tão transparente quanto cativante. No final, com as peças todas gravadas e reunidas, surgiu um disco singular, assombrado por um outro espírito, o de John Fahey. Em vinte pequenos temas (cada um variando entre um e três minutos) é sustentada a espantosa história musicada de alguém que ninguém sabe ao certo quem foi. Assim são as lendas e esta transformou um enigmático nome de gente em música da terra, blues sem forma.

Este disco foi editado pela Cuneiform, editora especializada em objectos genericamente inclassificáveis, transfronteiriços, marginais ao jazz e ao rock, mas que se afirmam pela sua originalidade – vejam-se os exemplos The Claudia Quintet, Fast’n’Bulbous, Yo Miles!, entre outros. Agora, esta magnífica lenda de Vernon McAlister, narrada por intermédio de delicadas melodias suspensas e embalos fantasmagóricos, é um notável acrescento ao catálogo. Depois de ouvir este disco, o fantasma Vernon McAlister descansará finalmente em paz.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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