Listas dos melhores 2007
· 10 Dez 2007 · 08:00 ·

Top álbuns 2007 · Top álbuns portugueses 2007 · Momentos 2007 · Tops ilustres

© Teresa

É cada vez mais comum surgirem discos portugueses na lista geral do Bodyspace. Não discrimina portugueses face aos artistas estrangeiros (como podem comprovar no top geral) e entende a lista nacional como uma montra privilegiada para o que é nosso. E 2007 foi fértil em música portuguesa de luxo. Norberto Lobo confirmou os créditos de guitarrista excepcional, os Lobster e Old Jerusalem brilharam (o ano é da Bor Land); David Maranha fez um incrível-em-qualquer-parte-do-mundo Marches of the New World; os Tropa Macaca assinaram um documento importante para uma cena exploratória que desponta e que aqui temos valorizado; e JP Simões e Amélia Muge continuam a aproveitar as virtudes da língua portuguesa. E há mais, como abaixo se pode comprovar. Pedro Rios


10: 
Tropa Macaca Marfim
Ruby Red
É um facto que o rock exploratório português teve nos últimos quatro anos um sopro interessantíssimo de criatividade e energia. O movimento é global: por todo o mundo, muitos músicos reencontraram-se com uma certa noção de liberdade. Portugal não foi excepção. Passada a fase inicial, é agora necessário dar passos à frente - a edição de discos em formatos mais duradouros (além dos tradicionais CD-R) é um deles. Marfim, o primeiro LP deste duo de Santo Tirso, recupera pistas do krautrock de sintetizadores dos Cluster, da electrónica enquanto elemento aglutinador de noise, rock e outras músicas (como fazem os Black Dice), da visão subversiva da música de dança dos Excepter. Isto de forma original, não reverente. A ainda curta história do outrock português passa necessariamente por aqui. Pedro Rios
9: 
Amélia Muge Não Sou Daqui
Vachier & Associados
Não sou Daqui, maravilhosa indefinição geográfica, tem de ser um dos regressos do ano. Anda aqui Amélia Muge a saltar de fronteira em fronteira, a fazer da canção um lugar deliciosamente livre e quem tem a ganhar com isso somos nós. Este que é o primeiro capítulo de uma trilogia é também provavelmente o melhor disco de sempre de uma senhora que faz da canção gato-sapato, confrontando-a consigo mesma, deixando-a seguir o seu rumo próprio no final. Tantos países, tantos cheiros, tantos sentidos. O destino destas canções nunca esteve escrito; foi a liberdade que as construiu. Só se pode esperar o melhor dos dois restantes capítulos deste tríptico. Que venham o mais depressa possível. André Gomes
8: 
Rodrigo Leão Portugal - Um Retrato Social
Sony BMG
Rodrigo Leão nem hesitou quando lhe propuseram compor a banda sonora para a série documental da autoria de António Barreto. A identificação imediata com o projecto foi força catalisadora do empenho que dedicou a este desafio mesmo à sua medida. Chamado a revestir de música os cenários visuais captados pela realizadora Joana Pontes, Rodrigo Leão não desiludiu. Em pouco tempo surgiriam instrumentais afectos à sua preferência de conjugar teclados electrónicos com cordas clássicas, mas com a particularidade de remeterem facilmente para as imagens que o documentário projecta. A harmonia conseguida na relação som/imagem é a virtude mor deste registo. Em Portugal - Um Retrato Social, as imagens contêm sons e os sons contêm imagens. E contêm todo o talento de Rodrigo Leão. Eugénia Azevedo
7: 
DJ Ride Turntable Food
Loop Recordings
Este é um exemplo de como a música portuguesa conseguiu abolir fronterias no que diz respeito à fusão de linguagens. Da cabine de djing à consagração como talento emergente da cena urbana nacional, o nome DJ Ride pontificará sempre que se façam alusões à música que tem por base o manejo do gira-discos. Aqui, no entanto, esse instrumento tão habitual da sua actividade de DJ, pela qual tem sido também muito agraciado, é somente a matéria-prima para Turntable Food. Aqui há, e é mesmo verdade, canções. As camadas de samples sucedem-se a bom ritmo fundindo a electrónica experimental com o hip-hop num todo que vicia facilmente. “Come Take the Ride” conta com a participação de Margarida Pinto e é uim dos momentos mais inspirados de um disco que constitui uma das mais refrescantes surpresas do ano. Eugénia Azevedo
6: 
João Paulo Memórias de Quem
Clean Feed
Se dúvidas houvesse, o disco a solo Memórias de Quem confirmou o pianista João Paulo como um dos mais notáveis improvisadores em território nacional. A sua identidade única, a capacidade de pegar em temas origem popular para magníficas revisões e o brilhantismo das composições/improvisações fazem dele um caso raro em Portugal. A intensidade que coloca na interpretação de cada melodia transborda as fronteiras do jazz ou da música improvisada e esta música afirma-se numa tocante universalidade. Magnífico. Nuno Catarino
5: 
David Maranha Marches of the New World
Grain of Sound
Marches of the New World insinua no seu título desde logo a noção de movimento. Nome mais do que acertado para um álbum cujo âmago reside exactamente naquele ponto onde este é não um meio mas um fim em si mesmo. É neste movimento quase-devocial que se descobre o tal "novo" mundo do mentor dos Osso Exótico, longo périplo por entre texturas lamacentas e passadas pesarosas. Poderia comparar-se a uma procissão, que lenta e compassadamente se ritualiza no seu próprio movimento, estando o acto devocional inerente a todo este caminho e não numa suposta conclusão. E Marches of the New World nunca se conclui, alimenta-se ad infinitum nas suas próprias espirais, descartadas de qualquer simbolismo terreno, para se confinar (temporariamente) ao seu próprio movimento, enquanto lentamente se erguem lajes a um Velho Mundo. Bruno Silva
4: 
JP Simões 1970
Nortesul
O JP Simões de 1970 não é aquele que víamos a virar hamburgers em 1998 no vídeo de “Sunset Boulevard” dos Belle Chase Hotel. Não. Para já, fez o bigode há cerca de três anos e deixou o inglês para trás. A evolução de boémio adepto do álcool para trovador respeitável deu-se com este disco. O português já aparecia nos Belle Chase Hotel, mas era com um sotaque brasileiro que não deixava nada para a imaginação em termos da comparação com Chico Buarque, o seu herói de sempre. Depois apareceu no projecto pós-Belle Chase Quinteto Tati. E foi aí que Simões começou a tratar a Língua Portuguesa por tu. Agora, em 1970, está em pleno domínio dela. Bossanova em português como José Cid nunca esperou quando, diz ele, foi a primeira pessoa a cantá-la no sotaque de Camões. Um triunfo. Rodrigo Nogueira
3: 
Old Jerusalem The Temple Bell
Bor Land
É sempre de mansinho. Os álbuns de Old Jerusalem chegam sem fazer grande alarido e atingem-nos com a mesma subtileza. O mais recente, The Temple Bell, não é excepção: faz-se de episódios diários de uma suposta história de amor que decorre por entre pilhas de CDs, enquanto lá fora, solto ao vento, um lenço expressa uma vontade indeterminada. São episódios que se transformam em canções, que nelas são cantados e, sobretudo, descortinados pela parte que, nestes casos, se costuma julgar omnisciente. Francisco Silva, o homem por detrás da máscara, tem uma voz à altura dos acontecimentos; os textos continuam tão bons como no álbum anterior, Twice the Humbling Sun; e o ambiente continua a ser o de um lugar onde entramos e imediatamente nos sentimos confortáveis - talvez pretensamente confortáveis, talvez ilusoriamente afortunados. Samuel Pereira
2: 
Lobster Sexually Transmitted Electricity
Bor Land
Um dos nomes mais respeitados de uma certa "música periférica portuguesa", sempre subsistiu no duo lisboeta um certo apego a formas mais tipificadas de rock, que, não sendo convencionais, sempre se pautaram por uma distensão muscular em headbanging compulsivo. Ou seja, relembramos as suas músicas ("Farewell Chewbaca" é um clássico moderno) e certamente já ensaiámos passos disconexos de quase-dança em devoção ao riff furioso e ao ritmo espasmódico. Sexually Transmitted Electricty é o depurar daquilo que tantos palcos temem, os fantasmas do stoner rock filtrados pela confontação do hardcore, apontamentos solistas a la Reign in Blood de braço dado com a expansividade do delay, e um eterno ruminar sobre o cansaço da explosão. Murros no estômago necessários para que este "rock" se volte a agitar. Bruno Silva
1: 
Norberto Lobo Mudar de Bina
Bor Land
A meio caminho entre o legado português (com Carlos Paredes como óbvia referência, já que o disco lhe é dedicado) e o legado americano (que terá em John Fahey o seu máximo expoente), Lobo explora em Mudar de Bina todo o potencial da guitarra acústica, num álbum quase 100 por cento a solo. A partir dessa abordagem, o músico criou um dos mais belos álbuns portugueses desta década, com tanto de simplicidade como de complexidade: as harmonias são por vezes intrincadas, mas nunca se perde o sentimento de um disco caseiro e lo-fi; a tranquilidade é dominante, mas o ouvinte não deixa de sentir momentos de energia e inquietação. Na sua estreia em disco, Norberto Lobo mostra uma técnica apurada na arte do dedilhar, mas o que mais impressiona é que consegue ser mais impressivo do que orquestras inteiras. João Pedro Barros

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