Listas dos melhores 2007
· 10 Dez 2007 · 08:00 ·

Top álbuns 2007 · Top álbuns portugueses 2007 · Momentos 2007 · Tops ilustres

© Teresa

10: 
Burial Untrue
Hyperdub / Flur
Poder-se-ia acreditar que depois de Burial (2006) que haveria pouca margem de manobra sonora para um segundo disco, especialmente preparado em tão pouco tempo. Mas resposta não tardou. Untrue mantém os princípios do disco inaugural (atmosferas densas e sombrias, fantasmas soul que vocalizam amarguras, geometrias 2-step exactas) sem que para isso se conclua que é mais do mesmo. Há elementos transgénicos que são subtilmente introduzidos na matriz. Burial baralha a tabela periódica com a preocupação de não desencadear reacções químicas explosivas. Trabalha obsessivamente na sua música madrugada fora. É perfeccionista quando tem noção que tem em mãos um som único não só reverênciado pelo público dubstep, como também por uma massa de gente que supostamente nem lhe deveria achar o mínimo de graça. Untrue é sem dúvida sombrio e fantasmagórico, mas também iluminado e transversal. Rafael Santos
9: 
Thurston Moore Trees Outside the Academy
Ecstatic Peace / Ananana
Thurston Moore não pára quieto: fundador de umas mais aclamadas bandas indie-rock de sempre, os Sonic Youth, arranja tempo para ser padrinho e colaborador da cena underground, dono de uma editora e até crítico de música. À beira dos 50 anos (não parece, pois não?), resolveu lançar o seu segundo disco a solo (a primeira experiência, Psychic Hearts, datava de 1995). Em Trees outside the Academy, Moore prossegue o caminho trilhado pela sua banda entre Murray Street e Rather Ripped, centrando-se mais em canções e quase nada em divagações. O guitarrista deu-se ainda ao luxo de estar muito bem acompanhado em estúdio: Samara Lubelski (o seu violino pontua quase todas as faixas, acrescentando uma textura que em “Never Light” chega a ser espantosa), J Mascis, Christina Carter ou o companheiro youthiano Steve Shelley ajudaram a construir um álbum despretensioso, fluido e até melancólico, que não pode ser visto como uma peça menor. João Pedro Barros
8: 
Jens Lekman Night Falls Over Kortedala
Secretly Canadian / Flur
A noite cai muito cedo na pequena localidade de Kortedala, em Gotemburgo. Este ano, essas pacatas paragens foram objecto de uma visibilidade inesperada graças à mente irrequieta do seu mais ilustre habitante. Quando em 2004 Jens Lekman lançou ao mundo o repto When I Said I Wanted To Be Your Dog, muitos retiveram a sua habilidade de produzir belas canções, mas talvez não projectassem neste jovem o talento que Night Falls Over Kortedala põe em evidência. Entretido a contar histórias de diversos personagens, inclusive da vizinhança, Lekman foi cosendo as suas linhas com uma mestria desarmante. Nas suas peças aplicou uns mágicos pozinhos de perlim-pim-pim (feitos de estilo retro e belas orquestrações) e o resultado está à escuta. Em doze capítulos, o último registo de Jens Lekman transmite uma lição de infinita dignidade ao universo estafado da pop. Eugénia Azevedo
7: 
!!! Myth Takes
Warp / Vortex
Louden Up Now, editado em 2004, foi uma bomba que explodiu nas mãos e corações de muita gente. Tanta coisa se passou entre esse ano e 2007 mas quem viu no segundo disco dos !!! uma cura para todos os males terá sentido na pele a chegada muito aguardada de Myth Takes. Nic Offer continua a liderar um dos ensembles mais funky dos nossos tempos. Myth Takes encapsula alguma da música mais enérgica (e energética) que 2007 teve a oportunidade de receber. Tanto sexo, tanto suor, tanta magia. “Heart of Hearts” é mais perigosa do que qualquer coisa que se possa imaginar. Se já era bem evidente há uns anos atrás, hoje continua a sê-lo: da fornada revivalista que nos atingiu nos últimos anos os !!! são uma das poucas bandas em que podemos confiar a 100%. André Gomes
6: 
The National Boxer
Beggars Banquet / Popstock!
Se Alligator (2005) era um conjunto de momentos mais ou menos relevantes, alguns realmente admiráveis e outros de que a memória não se ocupa, Boxer é um acto quase contínuo onde, de quando em quando, se destacam instantes cuja beleza parece desafiar a assunção do que, momentos antes, julgávamos ser o belo. Somam-se batidas assanhadas às guitarras pesarosas, uma voz que se acha encharcada em prosa de rendilhado fino, um perfil discreto, e uma certa incerteza face a tudo o que fazem. As canções dos National são, afinal, sobre essa incerteza; afastam-se, desligam-se, pedem desculpa. Boxer não instiga; antes pega no controlo remoto, acomoda o corpo e diz-nos que tudo passará. Samuel Pereira
5: 
Radiohead In Rainbows
XL Recordings
Amados e odiados, os Radiohead são uma das maiores bandas dos últimos 25 anos e por isso é naturalíssimo que um novo disco faça mover montanhas. Ainda por cima, In Rainbows não é um disco qualquer no seu formato. Lançado em MP3 com um mediatismo qb, In Rainbows tornou-se imediatamente no centro das atenções. Felizmente o conteúdo não desilude. Mais consistente do que Hail to the Thief, o sétimo álbum de uma carreira quase intocável é um resumo evidente dos melhores momentos que os Radiohead conseguiram em todos estes anos. “15 Step”, “Bodysnachers”, “Weird Fishes/Arpeggi”, “All I Need” e sobretudo “Reckoner” fazem de In Rainbows um dos melhores conjuntos de canções do ano. É por estas e outras que os Radiohead são um porto seguro de muito boa gente. André Gomes
4: 
Animal Collective Strawberry Jam
Domino / Edel
Injusto seria deixar de referir que as mais mornas reacções a Strawberry Jam devem-se principalmente ao facto de serem praticamente insuperáveis as expectativas geradas por uns Animal Collective sem os quais a primeira década no novo milénio teria sido uma temporada de menor arrojo para a pop que o quer ser independentemente da forma e estrutura. Quando se acumula em currículo peças-chave como Sung Tongs e Feels (ambos discos do ano em anteriores balanços do BS), é quase inevitável uma banda ver-se refém de si mesma quando fica aquém do transcendental. Strawberry Jam não toca esse estabelecido ponto, mas consegue, mesmo assim e muito naturalmente, atribuir felizes e renovadas utilidades a peças de reportório tão determinantes quanto obscuras - daí que se descubra, entre os seus ingredientes silvestres, o plausível aspecto todo-o-terreno de "Fickle Cycle", a repetição empilhada em mural de "People" e a euforia natal de "Baby Day". Tais invocações só legitimam a afirmação de Strawberry Jam como sequela estimulada pela peculiar lógica dos Animal Collective. Toda essa será sempre bem-vinda. Miguel Arsénio
3: 
Panda Bear Person Pitch
Paw Tracks
Quem percorra habitualmente a Rua da Escola Politécnica, ali entre o Príncipe Real e o Rato, há-de provavelmente qualquer dia se cruzar com um americano de boné chamado Noah Lennox. A pose descontraída não faz prever que o jovem adulto que se passeia pelo coração de Lisboa seja o autor de um dos mais brilhantes discos de pop drogada alguma vez produzidos. Os 12m30s de duração não impedem que "Bros" seja o mais (inesperadamente) viciante single do ano - e por causa disso passamos metade do ano a cantar "I’m not trying to forget you, I just want to be alone". Na era da facilidade digital Person Pitch é uma preciosidade manufacturada, um compêndio do psicadelismo à base de samples. Irmã mais nova do unânime Feels, a pop torta deste disco não anda longe do conceito de genial. Nuno Catarino
2: 
M.I.A. Kala
XL / Popstock!
Para que não haja dúvidas: a diversidade é uma das mais-valias de Kala. Representa a irreverência da sua autora, que não resiste às palavras fortes para transmitir mensagens politicas. Representa uma viagem que a levou aos quarto cantos do mundo (India, Trinidad, Jamaica, Austrália e Japão) numa demanda espiritual. Representa um lado selvagem e agressivo que ao mesmo tempo deseja veemente a glória e a vingança. É uma música irrequieta e festiva que não poupa nem no “cravo” nem na “ferradura”. Ou não fosse o ímpeto tribal Tamil uma marca no código genético de M.I.A. e simultaneamente um elemento fundamental na transformação de muitos dos elementos pop em lanças eficazes. Kala é uma das marcas de autor mais originais do ano. Por isso mesmo a posição como um dos 3 melhores de 2007 é mais que merecida. Rafael Santos
1: 
LCD Soundsystem Sound of Silver
DFA / EMI
O fogacho punk-funk já lá foi, mas os LCD Soundsystem assinaram o disco do ano, segundo a redacção do Bodyspace. Sound of Silver é pop do novo milénio no seu melhor: súmula e reflexo do que está para trás, indicador do tempo presente e - especulamos - do futuro. A rudeza de "Yeah" já lá vai (foi um grito, já está dado), mesmo que "Watch the tapes" e "North american scum" ainda partilhem da mesma urgência. Mas é em temas como "Someone great" (perfeita para a quadra natalícia) e a pérola "All my friends" que o segundo álbum dos LCD Soundsystem revela uma banda sem prazo de validade, autora de hinos intemporais. Pedro Rios

30-21 | 20-11 | 10-1


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