Listas dos melhores 2008
· 09 Dez 2008 · 01:34 ·

Top 2008 · Top Portugueses 2008 · Momentos 2008 · Tops Ilustres

©Teresa Ribeiro

It was a very good year, cantaria Frank Sinatra. 2008 foi um bom ano para a produção nacional, que assistiu ao lançamentos de muitos e bons projectos, de muitos e bons discos. Para além dos discos que conseguiram lugar no top geral, queremos fazer referência a vários outros discos que marcaram o ano luso que passou. É para eles que está reservado este cantinho, exclusivo. Do pós-rock ao fado, do jazz ao kuduro, foi um ano em cheio para a música portuguesa. Da bamboleante "Kalemba (Wegue Wegue)" até à épica "Canção para o Rodrigo", muitas foram as canções que marcaram o ano. Estes foram os discos que reuniram mais consenso para a nossa redacção. Nuno Catarino


10.
Tiago Guillul
IV
Flor Caveira
  Chama-se pinta. Charme. Carisma. E sentido de humor. É assim que um pregador baptista conquista qualquer agnóstico. Qualquer ateu. Qualquer budista. Cientologista. O pregador baptista é, claro, Tiago Guillul, fazedor do melhor "panque roque do Senhor" (palavras dele). E IV é o seu primeiro álbum decentemente lançado. Entre Lou Reed querer ser preto e alguém beijar como uma freira, ninguém escreve assim em português. A edição especial tem uma faixa bónus que diz mal de um crítico musical reputado da nossa praça que, ironia das ironias, acabou por elogiar o disco do homem. Guillul é assim, conquista tudo. Desde os tempos de Guel, Guillul e o Comboio Fantasma. Desde que queria ser o leproso que agradecia. Desde sempre. Lo-fi, punk, pop, africanismos rudimentares, há espaço aqui para tudo. Até para uma tocante canção sobre o vocalista dos X-Acto e dos Sannyasin que se suicidou, cuja crista na escola, diz Guillul, inspirou o punk que há na sua teologia. Bonito, muito bonito. E, acima de tudo, divertido. Rodrigo Nogueira

9.
Alla Polacca
We're Metal And Fire In The Pliers Of Time
Bor Land
  O que faz um título enigmático como este na lista dos melhores discos de 2008? Primeiro, faz todo o sentido: os Alla Polacca são das coisinhas mais interessantes que a pop portuguesa produziu nos últimos anos. Segundo, faz o que muitos outros não conseguem nem que o Papa faça o pino durante a Quaresma: canções que são narrativas de filmes que são ainda canções. E terceiro, não faz rigorosamente nada para agradar a ninguém, acabando por agradar a quase todos. As letras são do Old Jerusalem Francisco Silva, um tipo que nos ensinou toda a métrica do amor tímido mas avassalador, em April de 2003. A pop abstracta dos Spiritualized mais tenrinhos, a instrumentália vagante dos Mogwai e o experimentalismo de calção a meia perna dos Slint andam todos por aqui, sem que a inspiração seja colhida a papel químico. Longe disso! Os Alla Polacca são metal incandescente mas contentam-se com uma existência pequena de madeiro quase extinto. Ainda bem. Helder Gomes

8.
One Might Add
Sailing Team
Ruby Red
  Ao atribuírem o titulo de Sailing Team ao seu primeiro álbum (formal), os One Might Add prometiam unir os pontos de uma rota que, nos últimos anos, encontrara o duo entregue a um impressionante chular de aparelhos “pimpados” até que estes rendessem música de dança afectada pela anomalia ou cavalgadas sónicas tão marcantes quanto hostis. Hasteando a bandeira da diversidade e rasgando todos os tratados diplomáticos mantidos com convenções e estéticas exaustas, Sailing Team foi imponente navio-pirata nos mares agitados da out nacional surgida em 2008. A imaginação é obrigada a acelerar o passo caso não queira perder o rasto aos corsários-do-barulho Alberto Arruda e Ruben Costa, numa altura em que parecem materializar novas hipóteses (e continentes inéditos do amplo atlas OMA) a cada faixa revelada. Já ninguém duvida de que, mediante vontade, os One Might Add seriam capazes de um disco dominado pelo house (escute-se “Suitable Energy”) ou de um outro mais próximo do hip-hop grosseiro. Por agora, é uma enorme sorte apreciar a fartura em mãos e adivinhar a que se esconde além deste cabo. Miguel Arsénio

7.
Rocky Marsiano
Outside the Pyramid
Loop
  Rocky Marsiano já tinha estado presente no top do Bodyspace, em 2005, com The Pyramid Sessions, e, também por isso, a sua presença em 2008, com Outside the Pyramid, não surpreende. O nome do disco denuncia uma vontade de novas experiências e D-Mars acrescenta uns pozinhos de funk ou house ao seu trabalho anterior. Mas os princípios basilares são os mesmos, e o luso-croata continua a juntar hip-hop e jazz instrumental com estilo e bom gosto. Sabemos que estas noções são muito relativas, mas elas constituem mesmo a melhor forma de descrever o trabalho de Rocky Marsiano. Como o bom gosto tem sempre lugar, que ninguém se admire de ver o sucessor de Outside the Pyramid num futuro top. João Pedro Barros

6.
Frango
Nada Miles
Merzbau
  Se Whole Hit Bloomer constituía até agora o ponto mais alto de uma certa música periférica portuguesa emergente nos últimos anos (seja o que isso for), o trono tem de ser agora partilhado com Nada Miles. A evolução surpreendente característica dos Frango, dá neste álbum lugar a devaneios de percussão free-jazz sobre teclados a invocar sonhos new age e ao casamento natural do psicadelismo do kraut com a espontaneidade do rock mais expansivo. A descoberta de um terreno fértil e inexplorado onde os barreirenses plantam as melhores sementes para daí recolher os frutos que confirmam a sua posição de estetas numa revisão mais-do-planeada da melhor música feita em Portugal neste início de Século. Bruno Silva

5.
Foge Foge Bandido
O Amor Dá-me Tesão / Não Fui eu que
Estraguei
Turbina
  Vocacionado para a escrita de canções, Manel Cruz não podia adiar mais o lançamento de um trabalho de índole pessoal, à margem de todos os outros em que se envolveu (Ornatos Violeta, Pluto, Supernada). O rebento em questão nasceu em formato disco-livro, conjungando de forma inteligente as duas facetas que conhecemos a Manuel Cruz: a de ilustrador e a de músico. A fase de gestação prolongou-se por mais tempo do que o previsto (na realidade, há temas compostos há cerca de dez anos), mas não gerou nenhuma imperfeição no resultado final. Assim, o disco-duplo encerra as habituais narrativas expressivas e visualizáveis, agora sem a candura, a ingenuidade e por força do envelhecimento, a genuinidade que exalavam dos trabalhos dos Ornatos Violeta. Quase por oposição, os ganhos foram significativos ao nível da vontade de seguir em frente a experimentar e explorar em termos instrumentais, ocorrência que acompanha a mesma escrita acutilante de canções de sempre, o único ingrediente de Cruz que nunca precisou de dar o salto. Eugénia Azevedo

4.
Supa
Shift
Matarroa
  Os Supa são actualmente um dos trios mais vigorosos do hip-hop português. O formato de dois MCs (no caso, Gab e Núcleo, dois Factos Reais) e um DJ (nada menos do que DJ Ride, um jovem campeão do scratching) revela-se ganhador num primeiro disco enxuto e sem o colesterol habitual no género. As vozes convidadas deixam um rasto de mel, como em “Nem Sempre Dá” com Jair e “Antes e Agora” com Tamin, o que empresta a Shift uma terna vocação soul. E Núcleo canta crioulo em “Sima Ta Da”, um inesperado número pintado com tintas country e até blues. Este disco é um risco num país adormecido pelo lixo televisivo e pela estupidez como instituição pública de interesses privados. E, no entanto, é também de beats arriscados que se fazem novos amanhãs que cantam. Helder Gomes

3.
Dead Combo
Lusitânia Playboys
Dead & Company
  Arriscamos dizer que em Lusitânia Playboys estão as melhores composições de sempre de Tó Trips e Pedro Gonçalves. A banda mantém a sua matriz, uma amálgama de fado, jazz, blues e world music, mas acrescentou-lhe uma série de colaborações externas que adicionam complexidade aos arranjos: Howe Gelb (ao piano, em “Manobras de Maio 06”), Kid Congo Powers (em “Cuba 1970”, o melhor momento do disco) e Carlos Bica (em “Lisbon / Berlin Flight”). Os Dead Combo são ainda os autores de um milagre: qualquer cidadão não português consegue perceber através deles o que é a saudade, sem “abandonar” o século XXI. João Pedro Barros

2.
Gala Drop
Gala Drop
Gala Drop Records / Flur
  Entre as paisagens surrealistas e abstractas, o tribalismo urbano, as passas ocasionais no cachimbo da paz de Lee "Scratch" Perry ou a hipnose induzida por um qualquer xamã da era moderna, a música dos Gala Drop é a fina flor de uma nata portuguesa que não se incomoda de conviver com diferentes travos na boca. Esta música respira liberdade enquanto luta pela diferencia de quem sabe estar em lugares longínquos e irreconhecíveis sem abandonar o conforto do retiro espiritual. No fundo um passeio aventureiro pelos quatro cantos do mundo em busca de um legado sonoro que se vai dissipando com o tempo e que, pelo extraordinário exemplo deste trio português, ainda está no zénite do recuperável. Rafael Santos

1.
Buraka Som Sistema
Black Diamond
Enchufada
  Kalemba (e o seu eterno Wegue Wegue) pode ter sido um dos momentos altos do Verão português. Agora, Black Diamond representa uma das mais valias estéticas no panorama musical deste pobre país à beira-mar encalhado desde há alguns anos para cá. Ultrapassados os preconceitos sobre o kuduro que imperavam na mentalidade colectiva da “metrópole”, os Buraka Som Sistema ergueram a ponte que definitivamente uniu duas margens que distanciavam-se inexplicavelmente. Black Diamond abraça duas culturas distintas e bombeia-as para o centro da acção da escrita criativa. Um coração urbano que bate vigorosamente, irrigando o sistema com o puro sangue africano enquanto oxigena os músculos com o melhor que o espírito das raves deixou como legado. Obrigatório! Rafael Santos


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