ENTREVISTAS
Johanna Kunin
Arma Secreta
· 10 Nov 2006 · 08:00 ·
Como a própria gosta de dizer, Johanna é tal e qual aquela canção de Bob Dylan e Kunin é pronunciado Koon-yin, com o "oo" como em "book." São 'exigências' de uma escritora de canções pop nascida em Illinois, crescida em Minneapolis e residente em Seattle. Pop por claro destino, porque os seus estudos fizeram-se durante muito tempo na área da improvisação jazz (que ainda hoje parece marcar a sua composição). Diz que as canções lhe correm nas veias desde há muito tempo e não parece estar a mentir. Clouds Electric, com edição própria, é um disco de pequenas e delicadas canções que mostra Johanna Kunin ao mundo de uma vez por todas, depois de algumas canções por aí espalhadas. A entrevista com Johanna Kunin, a nova arma de Seattle para uns, funciona como um espelho apontado directamente à sua mente de cantautora.
Nasceste em Illinois, mas cresceste em Minneapolis. O que recordas desses dias?

O meu lugar favorito no mundo é a cabana que o meu avô construiu nas margens de um lago perto de Ely, Minnesota. Passei a maior parte dos meus Verões lá a crescer. Um dia em cada Verão, todas as ninfas libelinhas rastejavam para fora do lago até às rochas. Lentamente os lindos insectos emergiam, secavam as suas asas ao sol e voavam para longe, deixando os seus antigos corpos para trás. Era mágico.

Começaste a tocar piano com a tenra idade de 5 anos. Sei que tens uma família com forte tradição no piano. O que nos podes dizer acerca disso?

Existem vários músicos do lado da família do meu pai – um pianista de concerto, um saxofonista de jazz, um par de cantores de cabaret. O meu irmão e a minha irmã mais velha tocaram piano também, e eu cresci e aprender com o tocar deles sem sequer me aperceber disso. Tive muita sorte de ter uma família que me encorajou a tocar música desde tenra idade.

Mudaste-te para Seattle em 1999 para estudar improvisação jazz no Cornish College of the Arts mas depois disso começaste a escrever canções pop. Como é que um estudante de improvisação jazz acaba a escrever canções pop de um momento para o outro?

Improvisar era um desafio fascinante para mim na altura, mas acho eu o estilo do jazz veio em segundo no que ao meu interesse dizia respeito. E o meu gosto musical sempre correu mais para a pop, apesar de eu estar muito agradecida pelo background jazz que eu tenho agora. Lembro-me de um dos meus professores no Cornish me dizer para eu tocar tantos estilos musicais quanto me fosse possível. Ela disse que podia apenas adicionar profundidade àquilo que eu sou capaz de fazer. Eu acho que isso é bem verdade.

Antes de Clouds Electric lançaste alguma música noutros ‘locais’, como por exemplo compilações. O que é que nos podes dizer acerca disso?

Sigh Lens é um split comigo e com o Garrett Devoe, um fantástico escritos de canções de Brooklyn, Nova Yorque. A minha parte do disco foi produzida pelo Karl Blau (da K Records), que também pôs o disco como uma instalação nas suas séries Kelp! Monthly. Gravamos algumas das mesmas canções para Sigh Lens que também aparecem em Clouds Electric”, mas em versões descontroladamente diferentes com a contribuição do estilo dub/experimental/lo-fi do Karl. No processo de gravação fizemos coisas como preparar um piano com weatherstripping, gravar pop-rocks nas nossas bocas, alterar um amplificador Leslie. Foi muito divertido. Também fiz um EP chamado Up North e tive uma canção nos volumes 2 e 4 do Wax Audio Quarterly. Tenho uma faixa novíssima a sair noutra compilação muito em breve, mas ainda não posso dar os detalhes dessa. Mais informação estará no meu site nas próximas semanas…


Clouds Electric, o teu disco, tem contribuições de uma all-star band: Keith Lowe, Matt Chamberlain, Eyvind Kang. Como é que se formou essa banda?

Nao tinha conhecido nenhum desses músicos antes de graver Clouds Electric, mas conhecia cada um deles a partir do trabalho fantástico noutros projectos. Quando eu conheci o Tucker Martine, que produziu o Clouds Electric, fiz uma lista dos meus jogadores dream-team. Perguntamos-lhes se a todos se queriam tocar no disco e, milagrosamente, todos disseram que sim! Ainda tenho de me beliscar a mim própria às vezes.

Como é que acabaste por trabalhar com o Tucker Martine? Como é que foi gravar Clouds Electric?

Também não conhecia o Tucker antes de fazer o Clouds Electric, mas tinha ouvido falar do trabalho incrível dele com a Laura Veirs, Jesse Sykes, e Bill Frisell. Depois um amigo meu fez-me um favor e gravou algumas demos das minhas primeiras canções para mim. Acontecia que o meu amigo conhecia o Tucker, e passou-lhe as demos. De todo esse acaso chegou Clouds Electric, cerca de dois anos mais tarde. Trabalhar com o Tucker foi realmente incrível. Desde o primeiro dia no estúdio, senti que podia confiar completamente no julgamento dele. Ele é brilhante.


Como decidiste lançar o disco por conta própria? Tentaste encontrar uma editora para o disco?

No que diz respeito a editoras, estou apenas a avaliar aquilo que vem a meu caminho. Vamos ver o que acontece!

Como é a cena musical de Seattle hoje em dia? Costumas tocar muito em Seattle?

Mesmo com tantos músicos de todos os géneros em Seattle, ainda vejo a cena musical de aqui como uma grande família. Talvez seja por eu ter começado no jazz e me tenha mudado para a música pop, mas estou muito impressionada com a sobreposição que existe mesmo entre os diferentes mundos musicais aqui. Gosto mesmo disso. Neste momento toco mais ou menos uma vez por mês em Seattle, mas vou tirar algum tempo para gravar outros disco algures no próximo ano.

Quais são os ou as vocalistas que realmente te inspiram?

Estou realmente interessada em todas as vozes e modos de expressão através da voz. Gostou de ouvir pessoas a cantar que realmente soem como elas próprias – isso é muito mais interessante para mim do que falsas aparências. Para mim, é mais a forma como uma pessoa utiliza a voz do que a voz propriamente dita.

Que tipo de música tens ouvido nestes últimos tempos? Que discos gostas de ter sempre perto de ti?

O que anda na minha aparelhagem ultimamente… Mount Eerie, 12 Old Songs of Mount Eerie Mike Dumovich, Mesojunarian Animal Collective, Sung Tongs, Beck, Guero, Pure Horsehair, Aubade, Velella Velella, The Bay of Biscay Karl Blau, AM. Discos que eu tento ter sempre por perto… Stevie Wonder, Fulfillingness’ First Finale, Elvis Costello, My Aim Is True, Radiohead, Kid A e Brian Eno, Here Come the Warm Jets.

Alguém disse algures que tu eras “uma das novas armas secretas de Seattle”. O que é que isso significa para ti?

Bem, talvez, apenas talvez, eu seja uma mestre em várias artes marciais bastante mortais. Não posso comentar isso de uma forma ou de outra. Terias de te cruzar comigo para descobrir, apesar de eu não o recomendar!
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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