ÚLTIMAS
Os Vicious Five acabaram
· 12 Out 2009 · 21:40 ·
Vicious Five por Vera Marmelo
© Vera Marmelo

Os Vicious Five anunciaram o seu fim. O Bodyspace partilha as palavras da banda e tece a sua homenagem.

Um fim não é um fim em si, é uma hipótese de começar outra vez.

E o fim da história que vão ler agora, é o começo de cinco novos capítulos: os The Vicious Five vão deixar de tocar juntos.

A história que começou há seis anos atrás com os cinco putos de Lisboa a quererem tocar alto e fazer as pessoas dançar, acaba agora ainda com o mesmo sorriso nos lábios. E muito sinceramente, explicações são devidas na medida em que explicações são possíveis.

Começamos esta banda porque queríamos fazer a música que queríamos ouvir e não a encontrávamos em lado nenhum. Fomos descobri-la dentro de uma garagem, dentro de nós. Continuamos com esta banda porque o prazer que recebíamos de volta do tempo e trabalho que lhe oferecíamos todos os dias , compensava, sentíamo-nos retribuídos e muito mais vivos ao fim de cada ensaio, de cada gravação, de cada concerto. E The Vicious Five, a música que fizemos e tudo o que vivemos juntos ensinou-nos muito. Conseguimos dizer hoje, que somos pessoas melhores por termos decido construir isto juntos.

E é por respeito ao que construímos juntos que tivemos de parar para pensar e conversar. A verdade é que no último ano nos fomos sentindo menos juntos, e começamos a perceber que o que púnhamos na banda não vinha devolvido na mesma proporção. E como em qualquer parceria ou casamento, cada um dá o que quer receber.

Digamos que se tornou evidente uma escolha – manter amigos e abrir mão de uma banda ou manter uma banda, perder amigos e passados alguns meses perder a banda.

Sempre quisemos ser positivos e independentes em tudo o que fizemos, firmes crentes no amor, na honestidade e na autonomia, não queremos agora deixar que a vida decida por nós, a maneira como acabamos ou começamos as nossas histórias, nem queremos que o que construímos de bom e positivo fique manchado por não termos sabido parar quanda era altura de parar, nem considerar-nos uns aos outros.

Estamos orgulhosos do que fizemos. Com o que vivemos e aprendemos juntos, cada um de nós vai continuar a fazer música e enquanto houver um puto insatisfeito que insista em perguntar “porquê?” a nossa música há-de estar viva. Contamos com vocês para continuarmos a fazer o novo baile e para se continuar a espalhar o amor como se fosse manteiga.

Obrigado a todos, por tudo.
Stay horny, stay hungry, be thirsty.

Sempre vossos,
The Vicious Five




O Vício nos Vicious Five

Depois de muita persistência, o Quim acabaria por me vender o The Electric Chants of the Disenchanted por qualquer coisa como 5 euros. Por algum motivo, que ainda hoje desconheço, as cópias que ele tinha do EP estavam contadas e partiam daquelas escadas da FCSH (em Berna) para parte incerta. Era natural a vontade de conhecer a música dos Vicious Five, depois de tudo o que me tinha dito o João Vairinhos (baterista dos também extintos Day of the Dead) sobre como eram bons, reunidos naquela nova formação, assim como nas anteriores bandas (sem saber da associação, eu já curtia a metade da cassete que os O.B. partilhavam com No Class Youth).

Além disso, alguns momentos de convívio tinham sido suficientes para reconhecer a capacidade do Quim como entertainer. Ele que até já tinha caído em graças quando optou por “Tired of Sex”, de Weezer, para abrir uma compilação sua de temas favoritos (com um All-Star clássico colado na capa). As longas negociações revelaram-se recompensadoras, assim que percebi que The Electric Chants of the Disenchanted era tecnicamente impressionante, apesar de ter sido gravado com os meios de uma edição de autor (o vídeo gravado pela mesma altura é hoje uma raridade). O texto sobre copyright, perspectivado como direito a copiar e voltar a dar, fazia todo o sentido no interior de um EP, que “cortava e colava” as partes dispersas de uma grande Lisboa, que haveria de aprender a rockar e a abanar o corpo com os Vicious Five. Também é verdade que os Vicious Five do primeiro EP soavam muito a Blood Brothers, e essa comparação haveria de andar no meu bolso durante meses, pronta para ser disparada quando o Quim decidisse atacar o nome dos NOFX, tantas vezes envergado nas minhas t-shirts.

Mas qualquer vontade de denegrir os Vicious Five caiu em saco roto, quando, em 21 de Maio de 2005, cumpriram impecavelmente a primeira parte de Ex-Models, na Zé dos Bois, estreando algumas músicas do fabuloso Up On The Walls, entre as quais "Your Mouth is a Guillotine", logo de rompante. Sem pestanejar, diria que escutar "Your Mouth is a Guillotine", sentindo na pele aquela atitude de assalto, foi um dos mais marcantes momentos de rock nacional vividos em Lisboa como cidade “aqui e agora” (Here is Now). O animal estava fora da jaula e os Vicious Five tocaram tantas vezes Up On the Walls, de norte a sul do país, que chegou a ser aconselhável moderar essa regularidade para criar fome no público. Agora vão ser duros os anos de jejum que se avizinham.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros