Sufjan Stevens / St. Vincent
Casino de l'Aliança del Poblenou, Barcelona
07 Nov 2006
Há algo que deve ser dito sobre Sufjan Stevens: o homem sabe escrever canções. Quer seja a basear-se nas suas próprias experiências como membro de uma família peculiar (os pais do homem chamaram-lhe “Sufjan”, por amor de Deus) ou em livros de história, arranja sempre forma de escrever óptimas canções. E depois arranja-as com um bom gosto exemplar, cheias de vida e cor e coros e sopros e toda uma grandiosidade que ou se adora ou se odeia.
E depois há o Sufjan ao vivo. Nove pessoas, incluíndo ele, vestidas de pássaro. Com asas coladas na roupa. Sufjan Stevens é a águia, o grande pássaro que um dia o atacou num campo de férias. Sufjan conta essa história. Ia para os campos de férias - uma instituição americana - com os irmãos e passavam a vida a dar murros no joelho e a demonstrar amor de uma forma peculiar. Mas um dia encontrou um amigo que podia esmurrar e não respondia negativamente. Aliás, respondia positivamente, dava-lhe prendas. Foram andar de barco e Sufjan quis virar o barco com o amigo lá dentro. Mas ele tratou-o bem. Apareceu um pássaro gigante e atacou-os. Chamaram toda a gente, voltaram lá para combatê-lo, mas o pássaro já tinha fugido. Até hoje, Sufjan jura, o homem está sempre à espera que o pássaro volte.

Sufjan Stevens © Francisco Nogueira


St. Vincent © Francisco Nogueira

Grandiosidade, bonecos do Superhomem e do Pai Natal insufláveis atirados para a plateia, as canções e uma atraente menina que se chama Annie Clark. Membro dos Polyphonic Spree, tem um projecto a solo chamado St. Vincent e faz parte da banda de Stevens. Tem uma voz aguda e bonita, toca bem guitarra e tem canções de linhagem americana clássica (aproximam-se, quase, de standards modernos vistos sob a lupa do indie-rock). Não são grandes canções, mas durante 20-30 minutos é perfeitamente competente. Adorável, conta histórias, avisa que os seus managers a obrigam a anunciar e promover o EP que está à venda e sorri muito, agradecendo e dizendo identificando-se várias vezes. Como acompanhante de Sufjan, contudo, é uma estrela, vai tocando guitarra, baixo, cantado alguns coros, funcionando muito bem.

Sufjan Stevens © Francisco Nogueira

Sufjan Stevens Invites You To: Come On, Feel The Illinoise é, ainda este ano, um disco enorme, pejado de grandes canções e grandes arranjos. Melodias perfeitas e um retrato de um estado norte-americano visto através de livros de história e não de uma estadia prolongada lá. Mas a noite era de canções sobre os céus. pássaros, aviões, nuvens, o sol, etc. Assim, há “Chicago”, numa óptima versão, “The Man of Metropolis Steals Our Hearts” (sobre o Superhomem, canção que mostra que, por baixo dos dois guitarristas normalmente calmos há uma veia de indie-rockers com desejo de destruir), a sempre comovente “John Wayne Gacy Jr.” (sobre o serial-killer com o mesmo nome) ou “The Tallest Man, The Broadest Shoulders: Part I: The Great Frontier/Part II: Come To Me Only With Playthings Now Listen Listen” (infelizmente, sem muitas palmas). O homem toca guitarra, banjo e piano, e, atrás dele, os seus músicos vão rodando.

Sufjan Stevens © Francisco Nogueira

Há um encore que culmina, grandiosamente, como sempre, com Casimir Pulaski Day. Sala cheia, ovação em pé para os pássaros que se vão embora depois de um concerto tecnicamente quase perfeito, onde tudo está no sítio, onde tudo é belíssimo e, à falta de melhor palavra (e para não usar a sempre evitável expressão “maior do que a vida”), enorme. Bonito.
· 07 Nov 2006 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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