Frango / Aquaparque
Fábrica do Som, Porto
10 Mar 2007
Mais um capítulo da música periférica portuguesa acontecia na Fábrica do Som, um edifício portuense aberto à música. A casa que abriu em Setembro do ano passado na Avenida Rodrigues de Freitas também abre portas a este tipo de músicas. Nesta ocasião abria portas a dois projectos em situações distintas: os Frango viram-se recentemente privados de um dos seus elementos (a viver no estrangeiro); os Aquaparque (sim, Aquaparque) nasceram do final dos dAnCE DAMage, são André Abel na bateria e Pedro Magina nos teclados e na voz.

Começaram os Aquaparque com uma estranha (ao inicio) mistura de teclados com percussão e vozes que - segundo os rumores - os próprios descrevem como sendo meta-prog. Aproveitam os loops de teclados e criam paisagens a partir daí; depois entra a percussão e mostra os vários caminhos possíveis. Bateria processada, com efeitos. Teclados adulterados e em drogas. Se ao princípio a ideia não correu especialmente bem, ao longo da actuação os Aquaparque conseguiram ser interessantes bastantes vezes. “Buzios”, um dos temas que surge no myspace da banda, confirma a faceta prog e consegue ser estimulante na maior parte do tempo – na predominância dos teclados, na importância da percussão. A surrealista “Menaço” promete ser um grande êxito para os Aquaparque. Faltará ainda a André Abel e Pedro Magina algumas poucas actuações ao vivo para afinarem a máquina.

Passado algum tempo entravam os Frango em palco, isto é, Rui Dâmaso (também PCF Moya) e Vitor Lopes (também Barcos). Ao que se sabe o trabalho dos dois músicos sem Jorge Martins seguem uma linha de continuidade com aquilo que os Frango têm vindo a fazer. Ao vivo confirmou-se essa ideia, mesmo tendo em conta que os Frango de hoje são totalmente diferentes daqueles que lançaram Sitting San em 2005. As guitarras parecem ter menos importância, apesar de na primeira exploração que apresentaram se explorar o som de um; fizeram-no em conjunto com a voz, num tema que começou sereno e foi progressivamente aumentando a tensão. Os Frango de agora vão muito mais pelos pormenores. Vão muito mais em busca do drone, de minudências que lhes permitam criar paisagens duradouras.

Os longos minutos em que exploraram o som de pratos de bateria (com a mão, com baquetas) foram notáveis. De microfones na mão foram atrás do som que se esconde, fazendo lembrar um pouco a actuação dos Pelt na Casa da Música há algum tempo atrás. Os Frango de hoje fazem muito com pouco. Tirando as vozes, pratos e guitarra (muito pouco utilizada), os Frango exploraram as possibilidades de um teclado perto do final da actuação e foi aí que se mostraram menos interessantes; foram bastante melhores depois quando já não havia dedos nas teclas e o som estava entregue às máquinas que o tinham recebido. Mas nem isso foi suficiente para diminuir uma actuação que mostrou uns Frango em óptima forma, apesar de desfalcados. Nota negativa para a falta de público: não devia passar da dezena de pessoas.
· 10 Mar 2007 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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