Jazz ao Centro
Coimbra
4-6 Jun 2009
Dia 4 Joe McPhee

Nome inescapável da explosão free-jazz dos anos 60, Joe McPhee mostrou na noite do dia 4 porque mantém ainda hoje um papel de esteta, sustentado na criatividade e num estravasar de barreiras constante. Numa mais do que adequada pequena sala do renovado Museu Machado de Castro (completamente lotada), foi uma atmosfera profundamente intimista que prevaleceu ao longo da “eucaristia”. Com um repertório composto por standards, McPhee foi reinterpretando as peças como suas, dotando-as de uma dimensão quase litúrgca. Perante um público perene no seu respeito (poder-se-ia até chamar de devoção) para com a minúcia apaixonante da entrega, o septuagenário foi cortando o silêncio selpulcral em voos rasantes de notas lânguidas. Silêncio esse, cujo espaço próprio foi utilizado diversas vezes por McPhee quando incorria em ligeiros apontamentos percussivos no seu saxofone (como no início do concerto) ou num assobio dolente. O encore (?) fez-se apenas das palmas de McPhee, numa pobreza de meios que eleva o espírito. Porque foi disso que se fez aquela noite.

Joe McPhee © Nuno Martins

Dia 5 Peter Brötzmann 4tet

Depois do vendaval enquanto Chicago Tentet no Jazz em Agosto do ano transacto, Peter Brötzmann apresentou-se no teatro Académico Gil Vicente num versão reduzida desse mesmo, composta por Joe McPhee (saxofone tenor e trompete), Kent Kessler (contrabaixo) e Michael Zerang (bateria). Explorando as mesmas dinâmicas de grupo que fizeram da experiência do Tentet bem mais do que a fúria intempestiva que se poderia supor, foi precisamente durante os freakouts de grupo que o concerto do dia 5 teve os seus piores momentos (obviamente, longe da mediania). Com um som que por diversas vezes dissipou o saxofone de Brötzmann e o contrabaixo de Kessler, toda estas proto-explosões ficaram muitas vezes num banho maria efervescente, mas sem o poder de fazer agarrar de mãos firmes os braços do confortável auditório. Contrapondo a esta comunicação mais feérica, foram mesmo os momentos mais plácidos que aprouveram conduzir os músicos a diálogos plenos de lirismo. O lindíssimo dueto de Brötzmann e McPhee foi disso paradigma, antes de um breve encore em pose descontraída.

Peter Brötzmann Quartet © Nuno Martins

Dia 6 DAG

Assombrados por um timbalão nada estável logo no início do concerto, e sob a batuta de um som de sala (novamente) discutível, coube ao trio francês DAG, pisar o palco do TAGV neste último dia de Jazz ao Centro. Alinhando-se no tradicional esquema de piano (Sofia Domancich), contrabaixo (Jean Jacques Avenel) e bateria (Simon Goubert), escapam inteligentemente ao foco constante sobre o primeiro, para articularem as suas diferentes sensibilidades em algo mais do que jazz fumarento de bom tom. Desequilibrada, a actuação dos DAG foi entrecortando referências ao bop e ao free (Steve Lacy) com passagens devedoras da música contemporânea e neo-clássica, ora com resultados embaraçosos (o solo de bateria de Goubert ou alguns momentos de swing idiotas), ora encetando experiências bem mais favoráveis (as melodias circulares de Domancich). Somadas as partes, coube aos DAG ficarem-se pela mediania requintada.

DAG © Nuno Martins
· 10 Jun 2009 · 23:56 ·
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
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