@c + Burnt Friedman, Jaki Liebezeit e Josef Suchy - Festival Hi-Teca
Teatro Carlos Alberto, Porto
17 Set 2004
Dois dias depois do excitante actuação dos Spektrum, o Festival Hi-Teca deslocava-se para outras paragens dentro do mesmo território. Os @c, projecto da dupla portuense Pedro Tudela e Miguel Carvalhais, apresentaram-se no Teatro Carlos Alberto, acompanhados da habitual colaboradora austríaca Lia e da sua digital art. Ao vivo, tal como acontece em v3, o mais recente trabalho editado pela Crónica, os @c caminham por terrenos onde se desenvolvem ruídos vários, complementados por microorganismos cósmicos, corpos exteriores, exaltações sonoras que evocam paisagens bizarras, não raras vezes pintadas por alguma agitação e por sensações de estranhamento. As imagens projectadas no ecrã ilustravam o sentimento de uma forma coerente: algumas tiras cor de laranja degladiam-se, contorcem-se e dispersam-se até ganharem novas formas. Juntam-se bolas brancas, a tela preenche-se e as batidas cardíacas aumentam. A estranheza transforma-se em luz, sem nunca sair do embrião que a viu nascer. A beleza subjaz ainda entre agrestes e violentas manifestações de desassossego. Por vezes, as erupções intensificam-se mas apenas para confirmar essa mesma desordem.

Depois de um intervalo em que foi pedido a todos que abandonassem a sala, e depois de preparado o terreno, Burnt Friedman entrou em palco acompanhado de Joseph Suchy na guitarra e Jaki Liebezeit na bateria. Burnt Friedman tomou conta dos teclados e restante parafernália digital e partiu para uma actuação de cerca de uma hora. A guitarra de Joseph Suchy é rica em pormenores, tece intrincadas linhas de esperança, parece muitas vezes possuir o espírito da de Robert Fripp; a percussão propulsionada por Jaki Liebezeit é uma base segura onde assentam todos os outros elementos disparados. Todas as peças apresentadas são como um todo inseparável, uma espécie de banda sonora colorida dos dias pequenos – e a mutabilidade da cor do cenário mostrava isso mesmo. O colorido da actuação evoca horizontes soalheiros, ou o terno Outono, ou as características manifestações dub de Friedman. Tudo parece planar e deambular com uma naturalidade impressionante; como se um quadro pitoresco se pintasse assim, de um dia para o outro.
· 17 Set 2004 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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