DISCOS
Embryo & No-Neck Blues Band
EmbryoNNCK
· 26 Mai 2006 · 08:00 ·
Embryo & No-Neck Blues Band
EmbryoNNCK
2006
Staubgold / Flur


Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
Embryo & No-Neck Blues Band
EmbryoNNCK
2006
Staubgold / Flur


Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
O que pode levar duas bandas de estéticas e gerações distintas a encetar uma colaboração? O nome Embryo leva já várias décadas de história, desde que surgiu no meio do krautrock para se afirmar com um dos nomes fundamentais do movimento. Partindo de uma confluência de estilos, a música destes alemães liderados por Christian Burchard caracteriza-se principalmente pela abertura a uma miríade de influências, principalmente étnicas, psicadélicas e jazz – um facto relevante é que o eminente pianista de jazz Mal Waldron chegou a colaborar com este grupo. A No-Neck Blues Band é um colectivo sedeado em Nova Iorque, que neste momento leva já mais de uma década de actividade. Ensaiando o rock como ponto de partida, transformou-se num laboratório experimental que lidera a vanguarda da música pop/rock actual e influenciou notoriamente a nova vaga de bandas nova-iorquinas, dos Gang Gang Dance até aos Black Dice. Como poderia resultar a junção destas duas formações de sonoridades e épocas diferentes?

A resposta está na própria música, simplesmente, sem artifícios. Quando os músicos de ambas as formações se juntaram para esta sessão sabíamos à partida que a sua música não teria formas rígidas nem banais - pelo passado de ambas as bandas sabíamos estar na presença de músicos que possuem como característica comum a abertura a formas novas, rejeitando fórmulas gastas ou repetidas. E o que aconteceu foi uma sessão de improvisação comunal. Reunindo os músicos em liberdade criativa, procurou-se alcançar formas harmónicas, acabando até por revelar uma certa aproximação do formato canção, mas uma canção rasgada de pequenos desvios. Se no princípio de tudo está a experimentação, o improviso como princípio basilar, é a interacção e comunicação entre instrumentistas que transforma e desenvolve o caminho dos seus sons.

Percussões, sopros, vozes e uma multiplicidade de instrumentos em confronto compõem mantras densos que anunciam referências diversas às músicas do mundo - e a Índia acima de tudo. A segunda e quartas faixas têm no vibrafone a luz, para a divagação colectiva subsequente. Seguem-se momentos assentes em mais liberdade colectiva, com todos alinhados na tarefa de investigação. A música cinco, “Die Farbe aus dem All”, é uma investida próxima do free jazz, com ornamentação dos sopros ardentes. A sexta faixa quase poderia ser uma trip indiana em formato espiral e o disco fecha com “Das Erste Mal”, tema que começa em sossego para progressivamente se agigantar pelo acrescento sucessivo de elementos novos.

Se à partida havia lugar para dúvidas, elas depressa ficam dissipadas. A união entre bandas acaba por funcionar em pleno, deixando de haver duas entidades distintas em colaboração, mas apenas um grupo de músicos a trabalhar numa direcção única: EmbryoNNCK. Reunido as características reconhecidas das bandas originais, conciliando o gosto de ambos pela experimentação, a música aqui surge completamente fresca, nova. Será tarefa difícil, mas por um momento esqueçamos os passados e historiais - EmbryoNNCK é música do momento. Para os Embryo e para os No-Neck, a música nunca ficou estática, foi sempre uma aventura. Pelos vistos, continua a ser.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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