Listas dos melhores 2006
· 28 Dez 2006 · 08:00 ·

Top álbuns 2006 · Top álbuns portugueses 2006 · Momentos 2006 · Tops ilustres

10: 
Joanna Newsom YS
Drag City / AnAnAnA

Que bom que foi ouvir de novo em 2006 a voz de dama em apuros de Joanna Newsom depois de The milk-eyed mender em 2004. Quem não lhe atirou pedras há dois anos atrás dificilmente o fará agora; quem as atirou em 2004 poderá muito bem estar arrependido agora, pois Ys é bastante mais digerível do que o disco de estreia da harpista (a voz de Joanna Newsom parece estar mais polida), apesar de mais arrojado em termos de estrutura: Ys é menino para se fazer de apenas cinco longos temas e não cantar os ouvidos de quem lhe dedica tempo. É entre o progressivo e a doçura que se faz Ys, disco para segurar fieis e afastar inimigos. Independentemente disso, alguns dos momentos neste disco são eternos. André Gomes
9: 
Cansei de Ser Sexy CSS
Sub Pop

É de carne e osso o Bezzi de que fala Lovefoxxx na música de título homónimo que lhe foi dedicada – é um tipo completamente normal, normalmente fotografado em pose pensativa e t-shirt preta imparcialmente lisa de conteúdos. O Bezzi e os seus hábitos picuinhas, agora celebrizados à dimensão global num português com sotaque, serão apenas parte ínfima das figuras e traços estéticos característicos do underground de São Paulo que viu a sua popularidade triplicar em pouco mais de dois anos preenchidos por um incessante hype plenamente justificado. Justificado por força de uma contagiante e impermeável produção que serve idealmente aos propósitos de uma sensibilidade pop mais exótica do que a que pode oferecer qualquer concorrente emergido a partir dos Estados Unidos. CSS foi tão somente capaz de dois milagres impensáveis num passado recente: ressuscitar, por transfusão sanguínea, o que de melhor sobrava ao electro e aliar a mais categórica synth pop das Ladytron a um rock que supera, em benfeitoria lúdica, qualquer coisa que produzam os próximos sucessores à linhagem Strokes-Franz Ferdinand-??????. Eu já peguei o Bezzi. Tu também? Miguel Arsénio
8: 
Chico Buarque Carioca
Biscoito Fino

"Carioca". Devia ser assim que os outros putos gozavam com ele quando era puto. É que ele vinha do Rio de Janeiro e estava em São Paulo. Mas escapulia-se para ir ao cinema, para ver as actrizes dos filmes franceses despir-se e isso, ainda hoje, representa muito para ele, isto é, se acreditarmos no jogo de palavras no final de "As Atrizes". Até "Ode aos Ratos", uma espécie de rap com Edu Lobo - e, por falar nisso, todos os velhos deviam perceber que não, o rap não nasceu ontem, tem 30 anos e não ficam mais modernos se o tentarem, se não resultou Burt Bacharach com Dr. Dre, nada resultará, a não ser que seja com o Pacman, já que Sérgio Godinho e os Gaiteiros de Lisboa não têm razões de queixa - tem melodias boas, e há-de ter o seu valor lírico. Dos melhores letristas de sempre da música em português em canções enormes e um disco verdadeiramente incrível, muitos e muitos anos depois. Rodrigo Nogueira

7: 
Vetiver To Find Me Gone
Fat Cat / Flur

O primeiro disco dos Vetiver já era bom, é certo e sabido. Foi lançado numa altura em que o freak-folk era mais falado do que as pipocas e o El Corte Inglés. Mas agora deixaram-se disso e são “apenas” folk, com as devidas aspas e com as correspondentes transformações. Apuraram o seu sentido de oportunidade na escrita de canções e lançaram um disco de uma beleza e sensibilidade por vezes tocantes. Andy Cabic, homem de orgulhosa e farta barba, é o senhor que conduz os Vetiver por entre belíssimas canções como “Been so Long” e “Double”. Visto daqui, “Amor Fou” parece um caso de uma noite só, até porque To Find me Gone é um disco bastante mais coeso e constante que o álbum de estreia. Mais do que isso: é um passo em frente e seguro na ainda curta carreira dos Vetiver. André Gomes

6: 
Thom Yorke The Eraser
XL Recordings / Popstock

Thom Yorke trabalhando com Nigel Godrich (aka God) num disco a solo: a ocasião era ideal para a crítica tecer hossanas ou derrubar mitos, de acordo com os preconceitos de cada um. O vocalista dos Radiohead optou neste álbum por exorcizar fantasmas, escrevendo letras directas ao assunto, como nunca tinha feito na sua banda. Usou a electrónica a seu bel prazer sem os constrangimentos de um colectivo: é agora claro quem foi o grande responsável pela arquitectura Radiohead pós-Kid A. The Eraser é assim feito de fragmentos, blips, microritmos. O melhor disco laptop de sempre? É pelo menos o mais humano de todos eles. João Pedro Barros
5: 
Liars Drum's Not Dead
Mute Records

Eis uma das bandas que mais contribui para o sentimento de que o idioma pop-rock continua a evoluir. Grupo em redefinição/reorientação constante, os Liars decidiram desta vez optar por um álbum conceptual, em volta das aventuras de dois personagens, Drum e Mr. Heart Attack, o lado confiante versus o lado receoso do trio. Desde sempre preocupados com a inventividade dos ritmos e a descoberta de novas texturas sonoras, os Liars têm quase todo o ênfase de Drum's Not Dead voltado para a percussão (ouça-se a viciante “A Visit From Drum”), confiando aos outros instrumentos, como a guitarra, o retoque atmosférico e eventualmente etéreo das composições. Ao vivo, sabe quem os viu, estes homens são fogo. Neste disco, gravado em 2004 em Berlim, fazem-nos crer que tudo foi muito bem pensado, estudado e explorado. Longe, tão longe, vão os tempos em que eram meninos bonitos da cena punk-funk nova-iorquina. João Pedro Barros
4: 
Burial Burial
Hyperdub / Flur

O ambiente soturno acaba por ser o mais atraente neste universo peculiar e único. Poderá ser considerados por muitos como o primeiro e último grande disco dubstep, apesar da quase supremacia de texturas negras 2step. É certo que o dubstep ganhou este ano verdadeira visibilidade graças a este disco, mas também certo que o seu autor afastou-se da matriz elementar do género e gerou um universo próprio. É perturbador, negro e dos raros casos em que a música está em sintonia com o presente e simultaneamente consciente do futuro. É o verdadeiro produto fruto dos nossos tempos, onde os receios, medos e incertezas – talvez resultantes do 11 de Setembro – se identificam e se sentem. Burial um dos misteriosos arquitectos do amanhã e a sua música um espelho que reflecte a pouca luz das nossas cidades... Rafael Santos
3: 
TV on the Radio Return to the Cookie Mountain
4AD / Popstock!

David Bowie continua a saber acompanhar o espírito do tempo: outrora foram os Placebo a sua banda favorita, mas agora o “camaleão” está mais virado para Arcade Fire e TV on the Radio. A escolha não deixa de ser perfeita: coisas como o pós-rock e o novo rock já parecem do século passado (e não é que são?), já para não falar do revivalismo glam. Quem melhor do que os TV on the Radio enquanto representantes do zeitgeist: Return to Cookie Mountain tem estruturas complexas, guitarras distorcidas e adulteradas, elementos jazzísticos e um indesmentível toque pop (por exemplo, em “Province”, com David Bowie nos coros). E há o toque de estúdio milagreiro de David Sitek, o sampling, o cuidado com os pormenores, tudo características de uma sociedade tecnológica e industrial. O futuro confirmará se não será este álbum o melhor representante da vanguarda da música moderna em meados dos anos 00. João Pedro Barros
2: 
Comets on Fire Avatar
Sub Pop

Rock. Não existe outra palavra com mais probabilidades de passar pela cabeça de quem ouça Avatar com boa fé, e isto poderia ser facilmente provado com estatísticas. Os outros resultados possíveis seriam uma lista de palavrões que agora não vale a pena referir – todos eles ditos de forma elogiosa, claro está. Ok, caralho e filho-da-puta seriam algumas dessas palavras. Menos lo fi do que nunca, mas mesmo assim intenso e directo, o ultimo disco dos Comets on Fire é uma bomba prestes a explodir a qualquer momento. Que o diga quem assistiu aos concertos da banda no Porto e em Lisboa – com um Ben Chasny em delírio. Se o rock fosse todo assim 21586 bandas estariam no desemprego – elas sabem quem são. Avatar parece querer afirmar que se os Comets on Fire decidirem lançar outro disco no próximo ano a coisa deverá ocupar assim um espaço parecido com este dentro de 12 meses. Cá os esperamos. André Gomes
1: 
Sonic Youth Rather Ripped
Geffen Records

Foda-se, como é que eles conseguem? Não é terem uma consistência brutal de disco para disco, mantendo quase sempre o nível, com poucos tiros ao lado. Não, não é isso. O mais interessante de Rather Ripped, para além da música, é o facto de Thurston Moore e Kim Gordon serem um casal e continuarem a escrever canções para o seu parceiro e nunca terem acabado e nunca terem acabado com a banda. Junte-se a isto, à cena dos casais, os harmónicos patenteados SY de "Do You Believe In Rapture?", a concisão pop perfeita de "Incinerate", a urgência de "Reena", e o folk da floresta de "Or" e tem-se um disco pop quase perfeito com azeite qb (menos prog que Sonic Nurse, mas mesmo assim, se funciona para o Stephen Malkmus funciona certamente para os SY). Rodrigo Nogueira

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