Topes 2009
· 07 Dez 2009 · 22:13 ·

Top 2009 · Top Portugueses 2009 · Topes Individuais · Momentos 2009 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro


 

10

Tó Trips
Guitarra 66
Mbari

Não é surpresa nenhuma, para os mais atentos à evolução dos Dead Combo, que a sua metade guitarrística tenha feito um disco assim. E como todas as não-surpresas satisfatórias no mundo da música, este é uma que merece destaque. Trips tornou-se um paisagista guitarrístico de nível elevado, capaz de um óptimo sincretismo entre os instrumentais que remetem para Portugal, Espanha, América Latina, EUA, terras mediterrânicas norte e sul, e a Esmoriz a quem dedica uma canção e onde gravou boa parte do disco. Por entre as notas dedilhadas pelo homem da cartola - e podem ter a certeza de que ele faz com que cada uma conte - aparece um rastilho prestes a conduzir ou a uma festa de arromba, um cantor com noção total de drama a exibir os seus dotes, ou a uma tragédia caseira de fazer chorar o bairro inteiro. O instrumental, quando é belo assim, pode muita coisa. NP

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9

Tiago Sousa
Insónia
Humming Conch

Declarado o fim da Merzbau, talvez a mais importante netlabel portuguesa da década, Tiago Sousa dedica agora a sua concentração exclusiva à carreira a solo. E faz ele muito bem, uma vez que os discos Crepúsculo e The Western Lands indiciavam já um potencial imenso. Este álbum é a afirmação definitiva de um músico na verdadeira acepção da palavra - multi-instrumentista, com uma rara sensibilidade que atravessa estilos. O piano é o coração deste disco, é a partir do piano que se desenvolve uma poderosa força emotiva, explorada de forma obsessiva em sete temas/movimentos. Sobre Insónia paira um conjunto de referências, especialmente da música clássica/contemporânea do século XX, do minimalismo embrionário de Erik Satie até aos momentos mais claros de modernidade (ecos de Philip Glass, Michael Nyman e Terry Reily), incorporando também vestígios de jazz contemporâneo controlado. Embalado nestas coordenadas Insónia encerra uma dimensão épica. NC

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8

The Weatherman
Jamboree Park at the Milky Way
Sublime Impulse

Disco portentoso de um cantautor português que canta em inglês (e até francês) como peixe na água. Alexandre Monteiro sob o nome do grupo extremista hippie cometeu o grande atentado revolucionário no bom sentido no panorama nacional, O Grande Disco de Pop Psicadélica da história da música portuguesa. Beach Boys, Love, Syd Barrett, Stackridge, XTC, Elliott Smith na West Coast da Europa. Pena apenas que não tenha surgido em Portugal antes. E por aqui repito: a música nacional merecia ter tido há já muito tempo arte desta cosida a linhas psicadélicas como “Chloe´s Hair”, “God’s Reply”, “Candy Clem”. Mas se calhar só agora “We Were Given Space” (outra deliciosa canção) e como mais vale tarde do que nunca, eis que surgiu à beira da segunda década do século XXI e está aí à mão de semear. Papoilas, margaridas, lírios, hortênsias, cravos. Flores. Muitas. “God Only Knows” quantas. E como era merecido que este disco andasse por aí nas bocas (sobretudo ouvidos) do mundo inteiro. NL

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7

Rodrigo Leão
A Mãe
Sony BMG

Rodrigo Leão nem precisa de motivos maiores para escrever canções belíssimas. Mas quis a infelicidade trazer a morte da sua mãe para lhe servir de inspiração para um sucessor de Cinema que estabelece mais uma vez o ex-Madredeus como um pintor de emoções, paisagista emocional e criador de bandas-sonoras imaginárias para vidas bem reais. A Mãe é uma tela impressionista – e impressionante – de momentos que vivem da sua própria poesia, de uma dança interna e invisível, de um imaginário que Rodrigo Leão parece ter criado para si ma que é perfeitamente extensível a quem o quer acompanhar nestas viagens. Resumindo, A Mãe é mais um belíssimo capitulo de uma carreira recheada de belíssimas canções dotadas de uma universidade sempre empolgante. AG

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6

Manuel Mota
Sings
Headlights

Nome incontornável de toda e qualquer música improvisada, Manuel Mota ascende em Sings a uma sensibilização mais notória o seu discurso singular. Entenda-se o canto como forma de comunicação primordial e os fantasmas que se libertam dos dedos de Mota encontram-se num contínuo com os blues coloniais. Na gíria popular diz-se que “quem canta seus males espanta”. Estas “canções” à beira do silêncio são reveladoras dessa mesma capacidade de exorcizar demónios. É neste processo tácito que o guitarrista lisboeta atinge uma linguagem reveladora e profundamente personalizada, sem se refugiar na sua indiscutível capacidade técnica. De lábios selados, Manuel Mota revela tudo aquilo que tem a dizer, naquele que sendo o mais comedido álbum presente nesta lista, não deixa de ser também aquele onde se espraiam de modo mais revelador as suas sensações e angústias. BS

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5

Cacique 97
Cacique 97
Footmovin Records

Já o havíamos afirmado antes: Portugal merecia um disco assim. E se antes o dissemos com convicção, reafirmamo-lo uma vez mais com redobrada certeza. Porque se há prazer a extrair deste afro-beat "tuga" de espírito exótico inconformado – que une vontades de duas distintas latitudes –, é na postura séria e descomprometida dos Cacique 97, e da sua eficiente acção diplomática capaz de derrubar limites culturais, que está a cartada fundamental deste exemplo de multiculturalidade na nova música produzida em Portugal. Prova de astúcia na manipulação, recriação e reinterpretação – e outros “re” que se possam aplicar com merecida justiça – das coordenadas elementares das africanizadas sonoridades de Fela Kuit e Tony Allen e do pertinente intervencionismo da linguagem sobre os males que pairam na sociedade, os Cacique 97 são merecedores do distinto lugar que lhes atribuímos neste balanço de 2009 por tocarem com coragem, inteligência e sem complexos um género nem sempre compreendido ou amado em Portugal. RS

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4

B Fachada
Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado
Flor Caveira / Mbari

Se se atribuísse a B Fachada um lugar na actualidade nacional, o Jornal da Noite teria contado, durante 2009, com notícias de abertura como “jovem cantautor de Cascais diverte plateias“, “Bernardo Fachada transforma Lisboa num campo de batalha de opiniões” ou “novo disco pela Flor Caveira converte centenas de indecisos”. Com sorte (ou azar), o seu dom para provocar e emocionar valer-lhe-ia um convite do Bloco de Esquerda, mas foi Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado quem desencadeou todas as reacções noticiadas. “Quem”, sim, porque o Pónei é um disco com vida própria: condensa a inspiração de meses numa sessão de meros quatro dias, transforma standards passados em standards futuros - e ainda tem tempo para recuperar episódios e personagens de outros tempos, que nos ajudam a entender melhor as sexualidades e os afectos de hoje. B Fachada atreveu-se a cantar a vida off-line, mandando à merda a anglo-superficialidade habitual. Nem toda a fruteira tem espaço para tamanhos tomates, é verdade, mas nem isso trava o Ponéi Dourado. MA

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3

Old Jerusalem
Two Birds Blessing
Rastilho Records

Quando Deus – ou lá quem criou esta treta toda – estava a distribuir defeitos, esqueceu-se de dar a Francisco Silva o defeito de fazer maus discos. Pelo menos até agora. Álbum após álbum, o tipo não deixa de crescer como o maior de escritor português de canções em americano. Two Birds Blessing traz mais piano, baterias à Calexico, cordas e sopros. E, como sempre, um disco belíssimo. Porque o tipo não sabe mesmo errar. Até chega a ser irritante. Não há outro cidadão português que se expresse assim em americano, e isso é perigoso, porque putos podem crescer a achar que conseguem fazer o que ele faz e isso não é para todos. Provavelmente até já cresceram e Francisco Silva é responsável por bandas horríveis. Mas não podemos culpá-lo por isso, e qualquer queixa que tenhamos dissipa-se a ouvir um disco dele. RN

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2

Aquaparque
É Isso Aí
Aquaboogie / Flur

Sequiosos exploradores, herdeiros da revolução ‘Kraut’, André Abel e Pedro Magina consubstanciam em É Isso Aí anos de ensaios e experiências. E compensou esperar pelo amadurecimento e o apurar da receita. É que, quando tivermos de citar alguém dentro das nossas fronteiras capaz de evocar uma série de dicotomias entre as quais melodia/drone, electrónica/ruído ou ordem/caos, será um prazer trazer à discussão os Aquaparque. “Siga para Bingo” é um entusiasmante estudo de reinvenção da pop pelo recurso a fragmentos, um expediente comum no universo do duo. A ele se juntam inevitavelmente as colagens e justaposições, samples e repetições e o apego incondicional à parafernália electrónica, à qual se cingem. Não passar ao lado de ‘Fantasma’ – o cartão de visita do álbum -, e ‘Saúde’ são conselhos amigos. Trata-se de uma oportunidade soberba para analisar a relação serena e frutífera entre o Homem e a tecnologia. EA

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1

Norberto Lobo
Pata Lenta
Mbari

Mudar de Bina, a estreia de Norberto Lobo, em 2007, foi a confirmação do que já ouvíramos em MP3 passados entre mãos amigas, como se de um segredo bem guardado se tratasse. E assim era. Esse tempo, felizmente, já passou e Pata Lenta confirma Norberto como um dos maiores músicos portugueses. Os fantasmas de Paredes e Fahey ainda cá estão (totalmente integrados num discurso próprio), mas há tantos mais pontos de partida e fuga que falar neles já parece redutor. A forma como Norberto saca lampejos de beleza a partir da guitarra põe-no entre os maiores do instrumento, aqui e em todo o mundo. Ouça-se "Brisa Biónica", insinuantemente faheyiana, com aquelas curvas e silêncios em que o americano era mestre. Ou a correria de "Vento em polpa", a languidez quase-jazz de "Marquise Quântica", os harmónicos antes da filigrana soldada nas 12 cordas na hipnótica "Samantra". Grande, grande música. PR

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