Listas dos melhores 2006
· 28 Dez 2006 · 08:00 ·

Top álbuns 2006 · Top álbuns portugueses 2006 · Momentos 2006 · Tops ilustres

© Teresa Ribeiro

O que é um álbum? O que é que faz um álbum? Sabemos lá. Mas sabemos que o álbum nunca há-de morrer. Singles são singles e singles são bons. Mas não fazem álbuns. Dois bons exemplos este ano: St. Elsewhere dos Gnarls Barkley e Whatever People Say I Am, That's What I'm Not dos Arctic Monkeys. Claro, são topo das listas em todo o lado, mas quase ninguém se lembra que há vários tiros ao lado em cada um, e não são perfeitos. Mas talvez esteja aí metade da piada. São singles e depois o resto que se lixe. Um álbum é outra coisa. É cada momento fazer sentido sozinho e separado mas também junto, em grupo. Mas isso raramente acontece. Há sempre qualquer coisinha que falha ali.
Estes são os que mais se aproximaram este ano, em termos gerais. Mas isto é para nós, e até há-de haver alguns de nós que vêem em St. Elsewhere um álbum a sério, do início ao fim, e não dois singles brutais, um deles mais brutal que outro, um bom single, uma boa versão e um desequilibrado resto. Diga-se, de passagem, que os momentos melhores valerão provavelmente mais que mil outros álbuns, mas não fazem dele um grande disco, fazem só dele um disco listável. Confusão? É mesmo assim. Mas esta cena não é matemática, não é uma ciência exacta. Até há quem, no mundo, goste dos She Wants Revenge. Vá-se lá saber. Findas estas provocações gratuitas e totalmente injustificadas, passemos à acção.
Rodrigo Nogueira


30: 
Otomo Yoshihide New Jazz Quintet Live In Lisbon
Clean Feed

No Jazz Em Agosto 2004 Otomo Yoshihide apresentou-se com o seu quinteto jazz e o saxofonista Mats Gustaffson surgiu como convidado especial. Abordando temas originais e alheios - de Charlie Haden e Eric Dolphy até à belíssima versão de “Eureka” de Jim O’Rourke - o quinteto trabalhou numa grandiosa exploração dos temas, onde inscreveu todas as características da sua própria revisão em jazz contemporâneo. Nessa noite mágica de Agosto o ONJQ transformou material já existente em nova música, original, desenvolvendo poderosas improvisações individuais e colectivas - longas, radicais, profundas de emoção. Dois anos depois do concerto, é agora editada a gravação de parte desse espectáculo: se este foi em 2004 o concerto do ano em Portugal, em 2006 esta gravação não pode ser menos que o disco jazz do ano. Nuno Catarino
29: 
Final Fantasy He Poos Clouds
Tomlab / Flur

Final Fantasy = Owen Pallett = o tipo que fez os arranjos de cordas de Funeral, dos Arcade Fire. Eis a equação que trouxe o canadiano para a atenção do mundo da música moderna. He Poos Clouds é o segundo capítulo dessa fama, agora totalmente em nome próprio. Conta a história que o projecto começou quando Pallett decidiu não compor ao estilo esquizofrénico da sua banda favorita, Xiu Xiu, e optar por harmonias mais convencionais. Neste álbum, o violinista encontrou o ponto de equilíbrio para o que se pode chamar de pop barroca, grandiloquente ao ponto de chegar a camuflar a sua voz. Mas, para além do violino, ouve-se a presença do piano e de percussão, o que nos aponta para a instrumentação de um grupo de câmara. Só que o resultado dos devaneios do músico, sem ser experimental, nunca é aborrecido, mas sim elegante e sofisticado. Está aqui um pedaço surpreendente e ousado da pop de 2006. João Pedro Barros

28: 
Beirut Gulag Orkestar
Ba Da Bing!

Incidir sobre a tenra idade de Zach Condon (20 anos) qualquer discurso apostado em elogiar a sua precoce mestria enquanto compositor, arrisca tornar secundária a mais surpreendente das virtudes que 2006 revelou à mão que gere a Gulag Orkestar: a milagrosa capacidade de tornar universal aquilo que era suposto ser geograficamente circunscrito aos Balcãs (principal inspiração musical do disco). Suprimir a vontade que dá o romantismo de Gulag Orkestar de viver um amor cigano – com direito a crime e pitbulls assanhados – assemelha-se ao turn off que já inspirava a enumeração das balas que tinham atingido 50 Cent, quando o convite era a enriquecer ou morrer com isso em mente. Entenda-se Beirut como um Kusturica mais refinado e proporcional a ocasiões de maior pompa. Miguel Arsénio
27: 
Junior Boys So This is Goodbye
Domino

Produzido com uma invulgar formalidade e elegância estética, So This Is Goodbye prova ser possível viver a pop sem revivalismos impertinentes e construir uma linguagem de autor onde co-habitam referências do passado e do presente e onde os sentimentos se expressam de forma genuína. Aqui encontramos o verdadeiro o pulsar do coração humano num mundo onde máquinas geram sons para nos confortar. A pop parece andar moribunda mas os Junior Boys provam que ainda é possível construir-se álbuns de retumbante beleza sem resvalar para a insonsa vulgaridade. Rafael Santos
26: 
Scott Walker The Drift
4AD / Popstock!

O mais decisivo dos pontos a favor da má fama, que estigmatizou The Drift desde o início, é a garantia de que nada tem de bluff o eclipse que promete a maldita obra onde o terror psicológico rodeia e impede as saídas à luminosidade com todo o tipo de armadilhas para as quais não há antídoto além da irreversível rendição ao negrume. O trato mefistofélico e mergulho no lodo existencial de Scott Walker sujeita os aventurados a lidarem frontalmente com protótipos rítmicos extraídos à sova que merece um naco de carne pendurado, à audição incomodativa de insurreições sonoras alarmistas (aquele pssst pssst fadiga-me o fígado), ao convívio in your face com o que de mais perturbantemente alegórico amanha o songwriter para descrever o percurso descendente. A velhice e morte assombram Scott Walker, que, nem por acaso, produzira aos Pulp um This Is Hardcore que negava, à custa da devassidão e vício, o avançar dos anos. Quem avançar por aqui, terá mesmo de enfrentar dolorosamente o abismal fatalismo que ganha forma com The Drift. Miguel Arsénio
25: 
Calexico Garden Ruin
Quarterstick / City Slang

À partida para este quinto registo, Joey Burns e John Convertino, o núcleo duro dos Calexico, nada têm a provar a não ser a sua capacidade de se reinventarem estilisticamente. Não que estejamos fartos da fórmula perspicaz que conjuga country, folk, indie rock e jazz. Aqui, no entanto, constatamos uma nova vocação: a apetência para explorar caminhos decentes no universo da melodia pop. Daí resulta um punhado de composições bem conseguidas que gravitam à volta de outras igualmente convincentes. Ficam de fora os instrumentais, outrora escolhas habituais nos alinhamentos, mas mantém-se o cheirinho das guitarras mariachi, presentes em "Roka (Danza de la Muerte)", a faixa que integra a participação da magnífica Amparo Sanchez. Uma aposta segura da formação oriunda do Arizona. Eugénia Azevedo

24: 
The Mountain Goats Get Lonely
4AD / Pop Stock!

Depois de percorrer na sua discografia a Suécia e Gana, tal como memórias mais delicadas da relação com o seu padrasto, temia-se que John Darnielle acusasse exaustão que o esgotasse de ideias e, consequentemente, nos privasse dos seus inspiradíssimos discos. É perfeitamente normal que tão confessional escritor de canções optasse voluntariamente por uma condicionante que o levasse a ponderar sobre outros temas que não os percorridos: neste caso, projectou hipoteticamente a sua existência como se estivesse privado da sua esposa e isso obrigou-o a retomar com outro afinco à composição musical que foi servindo como terapia a esse exílio emocional. Get Lonely é o documento imaginativo disso – momento crucial em que Darnielle aproveita a maior fatia de tempo que, em solidão, tem para dedicar à arte (o próprio diz que aproveitaria certa manhã para pintar um quadro) e criar preciosos arranjos e momentos poéticos que podem apenas partir de alguém que, mesmo num suposto momento de desequilíbrio matrimonial, não perde o talento para tornar credível e comoventemente verosímil esse teatro que criou para si. Miguel Arsénio
23: 
Beck The Information
Interscope

Por vezes, na carreira dos músicos, há discos que são como feitiços que se viram contra o feiticeiro. Odelay estará condenado a ser a obra-prima de Beck, e foi logo à segunda tentativa. Desde então o norte-americano seguiu um rumo diversificado, até que com Guero voltou ao espírito eclético de Odelay. The Information prossegue o caminho e, verdade seja dita, Beck não consegue fazer álbuns fracos. Gravado durante um longo período, que começou em 2003, o disco contém alguns momentos fortemente hip-hop, como “Cellphone’s Dead”, mas talvez seja na catchiness do single “Nausea” que está o seu grande momento. Não há aqui canções tão gloriosamente perfeitas como “Devils Haircut”, mas Beck será sempre um dos grandes autores da música moderna. João Pedro Barros
22: 
Grizzly Bear Yellow House
Warp

Se Feels, dos Animal Collective, era o Pet Sounds dos tempos modernos, Yellow House é o seu SMiLE. Não, não demorou 500 anos a fazer, nem o seu criador principal foi consumido pela loucura e pelas drogas. Isto é Animal Collective, é Beach Boys, mas é bem mais (e mais folk) que isso tudo. Músicas com várias partes, até alguma repetição do princípio no fim, um disco coeso e feito para ser ouvido de uma vez só, com destaques para a pop vintage de "Knife" (canção do ano?), com falsetes e "oooh-oooh", "On a Neck, On a Spit", e o raio do disco todo. Quando o cabeleireiro gay repete "My love's another kind", quase no fim, é coisa para comover. Grande. Rodrigo Nogueira
21: 
Embryo & No Neck Blues Band Embryonnck
Staubgold / Flur

EmbryoNNCK é a união de duas gerações de músicos adeptos da comunalidade: os krautrockers Embryo são o mais antigo colectivo underground alemão, formado por Christian Burchard em 1969; formados há 14 anos, os No-Neck são uma das banda tutelares da actual psicadelia. Da união dos dois grupos, nasceu este disco, assombroso atestado de liberdade em música e da confluência de músicas tradicionais de todo o mundo. "Wieder das erste mal" chama a Índia, acrescenta-lhe percussão tribal e voz desmaiada. "After Marja's cats" vê sopros jazz a caminhar por entre quinquilharia metálica, sem rumo definido. "Zweiter sommer" aspira à trip pela repetição de uma linha melódica tocada em vários instrumentos. Um dos discos mais out there do ano. Pedro Rios

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