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30: |
Otomo Yoshihide New Jazz Quintet Live In Lisbon |
Clean Feed |
No Jazz Em Agosto 2004 Otomo Yoshihide apresentou-se com o seu quinteto jazz e o saxofonista Mats Gustaffson surgiu como convidado especial. Abordando temas originais e alheios - de Charlie Haden e Eric Dolphy até à belíssima versão de “Eureka” de Jim O’Rourke - o quinteto trabalhou numa grandiosa exploração dos temas, onde inscreveu todas as características da sua própria revisão em jazz contemporâneo. Nessa noite mágica de Agosto o ONJQ transformou material já existente em nova música, original, desenvolvendo poderosas improvisações individuais e colectivas - longas, radicais, profundas de emoção. Dois anos depois do concerto, é agora editada a gravação de parte desse espectáculo: se este foi em 2004 o concerto do ano em Portugal, em 2006 esta gravação não pode ser menos que o disco jazz do ano. Nuno Catarino |
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29: |
Final Fantasy He Poos Clouds |
Tomlab / Flur |
Final Fantasy = Owen Pallett = o tipo que fez os arranjos de cordas de Funeral, dos Arcade Fire. Eis a equação que trouxe o canadiano para a atenção do mundo da música moderna. He Poos Clouds é o segundo capítulo dessa fama, agora totalmente em nome próprio. Conta a história que o projecto começou quando Pallett decidiu não compor ao estilo esquizofrénico da sua banda favorita, Xiu Xiu, e optar por harmonias mais convencionais. Neste álbum, o violinista encontrou o ponto de equilíbrio para o que se pode chamar de pop barroca, grandiloquente ao ponto de chegar a camuflar a sua voz. Mas, para além do violino, ouve-se a presença do piano e de percussão, o que nos aponta para a instrumentação de um grupo de câmara. Só que o resultado dos devaneios do músico, sem ser experimental, nunca é aborrecido, mas sim elegante e sofisticado. Está aqui um pedaço surpreendente e ousado da pop de 2006. João Pedro Barros
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28: |
Beirut Gulag Orkestar |
Ba Da Bing! |
Incidir sobre a tenra idade de Zach Condon (20 anos) qualquer discurso apostado em elogiar a sua precoce mestria enquanto compositor, arrisca tornar secundária a mais surpreendente das virtudes que 2006 revelou à mão que gere a Gulag Orkestar: a milagrosa capacidade de tornar universal aquilo que era suposto ser geograficamente circunscrito aos Balcãs (principal inspiração musical do disco). Suprimir a vontade que dá o romantismo de Gulag Orkestar de viver um amor cigano – com direito a crime e pitbulls assanhados – assemelha-se ao turn off que já inspirava a enumeração das balas que tinham atingido 50 Cent, quando o convite era a enriquecer ou morrer com isso em mente. Entenda-se Beirut como um Kusturica mais refinado e proporcional a ocasiões de maior pompa. Miguel Arsénio
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27: |
Junior Boys So This is Goodbye |
Domino |
Produzido com uma invulgar formalidade e elegância estética, So This Is Goodbye prova ser possível viver a pop sem revivalismos impertinentes e construir uma linguagem de autor onde co-habitam referências do passado e do presente e onde os sentimentos se expressam de forma genuína. Aqui encontramos o verdadeiro o pulsar do coração humano num mundo onde máquinas geram sons para nos confortar. A pop parece andar moribunda mas os Junior Boys provam que ainda é possível construir-se álbuns de retumbante beleza sem resvalar para a insonsa vulgaridade. Rafael Santos |
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26: |
Scott Walker The Drift |
4AD / Popstock! |
O mais decisivo dos pontos a favor da má fama, que estigmatizou The Drift desde o início, é a garantia de que nada tem de bluff o eclipse que promete a maldita obra onde o terror psicológico rodeia e impede as saídas à luminosidade com todo o tipo de armadilhas para as quais não há antídoto além da irreversível rendição ao negrume. O trato mefistofélico e mergulho no lodo existencial de Scott Walker sujeita os aventurados a lidarem frontalmente com protótipos rítmicos extraídos à sova que merece um naco de carne pendurado, à audição incomodativa de insurreições sonoras alarmistas (aquele pssst pssst fadiga-me o fígado), ao convívio in your face com o que de mais perturbantemente alegórico amanha o songwriter para descrever o percurso descendente. A velhice e morte assombram Scott Walker, que, nem por acaso, produzira aos Pulp um This Is Hardcore que negava, à custa da devassidão e vício, o avançar dos anos. Quem avançar por aqui, terá mesmo de enfrentar dolorosamente o abismal fatalismo que ganha forma com The Drift. Miguel Arsénio
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25: |
Calexico Garden Ruin |
Quarterstick / City Slang |
À partida para este quinto registo, Joey Burns e John Convertino, o núcleo duro dos Calexico, nada têm a provar a não ser a sua capacidade de se reinventarem estilisticamente. Não que estejamos fartos da fórmula perspicaz que conjuga country, folk, indie rock e jazz. Aqui, no entanto, constatamos uma nova vocação: a apetência para explorar caminhos decentes no universo da melodia pop. Daí resulta um punhado de composições bem conseguidas que gravitam à volta de outras igualmente convincentes. Ficam de fora os instrumentais, outrora escolhas habituais nos alinhamentos, mas mantém-se o cheirinho das guitarras mariachi, presentes em "Roka (Danza de la Muerte)", a faixa que integra a participação da magnífica Amparo Sanchez. Uma aposta segura da formação oriunda do Arizona. Eugénia Azevedo
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24: |
The Mountain Goats Get Lonely |
4AD / Pop Stock! |
Depois de percorrer na sua discografia a Suécia e Gana, tal como memórias mais delicadas da relação com o seu padrasto, temia-se que John Darnielle acusasse exaustão que o esgotasse de ideias e, consequentemente, nos privasse dos seus inspiradíssimos discos. É perfeitamente normal que tão confessional escritor de canções optasse voluntariamente por uma condicionante que o levasse a ponderar sobre outros temas que não os percorridos: neste caso, projectou hipoteticamente a sua existência como se estivesse privado da sua esposa e isso obrigou-o a retomar com outro afinco à composição musical que foi servindo como terapia a esse exílio emocional. Get Lonely é o documento imaginativo disso – momento crucial em que Darnielle aproveita a maior fatia de tempo que, em solidão, tem para dedicar à arte (o próprio diz que aproveitaria certa manhã para pintar um quadro) e criar preciosos arranjos e momentos poéticos que podem apenas partir de alguém que, mesmo num suposto momento de desequilíbrio matrimonial, não perde o talento para tornar credível e comoventemente verosímil esse teatro que criou para si. Miguel Arsénio |
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23: |
Beck The Information |
Interscope |
Por vezes, na carreira dos músicos, há discos que são como feitiços que se viram contra o feiticeiro. Odelay estará condenado a ser a obra-prima de Beck, e foi logo à segunda tentativa. Desde então o norte-americano seguiu um rumo diversificado, até que com Guero voltou ao espírito eclético de Odelay. The Information prossegue o caminho e, verdade seja dita, Beck não consegue fazer álbuns fracos. Gravado durante um longo período, que começou em 2003, o disco contém alguns momentos fortemente hip-hop, como “Cellphone’s Dead”, mas talvez seja na catchiness do single “Nausea” que está o seu grande momento. Não há aqui canções tão gloriosamente perfeitas como “Devils Haircut”, mas Beck será sempre um dos grandes autores da música moderna. João Pedro Barros |
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22: |
Grizzly Bear Yellow House |
Warp |
Se Feels, dos Animal Collective, era o Pet Sounds dos tempos modernos, Yellow House é o seu SMiLE. Não, não demorou 500 anos a fazer, nem o seu criador principal foi consumido pela loucura e pelas drogas. Isto é Animal Collective, é Beach Boys, mas é bem mais (e mais folk) que isso tudo. Músicas com várias partes, até alguma repetição do princípio no fim, um disco coeso e feito para ser ouvido de uma vez só, com destaques para a pop vintage de "Knife" (canção do ano?), com falsetes e "oooh-oooh", "On a Neck, On a Spit", e o raio do disco todo. Quando o cabeleireiro gay repete "My love's another kind", quase no fim, é coisa para comover. Grande. Rodrigo Nogueira |
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21: |
Embryo & No Neck Blues Band Embryonnck |
Staubgold / Flur |
EmbryoNNCK é a união de duas gerações de músicos adeptos da comunalidade: os krautrockers Embryo são o mais antigo colectivo underground alemão, formado por Christian Burchard em 1969; formados há 14 anos, os No-Neck são uma das banda tutelares da actual psicadelia. Da união dos dois grupos, nasceu este disco, assombroso atestado de liberdade em música e da confluência de músicas tradicionais de todo o mundo. "Wieder das erste mal" chama a Índia, acrescenta-lhe percussão tribal e voz desmaiada. "After Marja's cats" vê sopros jazz a caminhar por entre quinquilharia metálica, sem rumo definido. "Zweiter sommer" aspira à trip pela repetição de uma linha melódica tocada em vários instrumentos. Um dos discos mais out there do ano. Pedro Rios |